São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 1996
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Cidade do sertão vira condomínio

DA REPORTAGEM LOCAL

A TV paga a cabo passou pelo teste da miséria nordestina. Currais Novos (RN), o laboratório, fica a 180 km de Natal e 57% de seus 40 mil moradores sobrevivem com menos de um salário mínimo.
"Se der certo aqui, vai dar em qualquer lugar do Brasil", diz José Siderley de Menezes, 52, dono da Sidy's TV a Cabo.
Já deu. Lá, 1.500 dos 8.500 domicílios são plugados à TV por cabo -ou 17,7%. É um índice espantoso. No Brasil, só 2,9% das casas são servidas por TV paga.
A chave do sucesso, segundo Siderley, não é só eliminar a chuvisqueira na tela. "Tenho assinante que mora em casa de taipa porque mostrei o povo na TV. O povo gosta de se ver e de ver os seus vizinhos", ensina.
A TV de Siderley parecia uma TV local norte-americana. Mostrava a missa de domingo, sessões da Câmara de Vereadores, baile de Carnaval e os endereços das farmácias de plantão.
Parecia porque foi lacrada pelo Ministério das Comunicações em agosto passado. Siderley não tem concessão, portanto não pode gerar programação.
Ele inaugurou o serviço em 1992 após conhecer a tecnologia numa visita à Disneyworld, na Flórida (EUA). Vendeu um posto de gasolina e foi esticando cabo pela cidade.
Só no ano seguinte percebeu que estava na ilegalidade. Apesar do texto confuso, a portaria 250 parecia querer limitar o serviço a condomínios. A Câmara de Currais Novos aprovou uma lei que transformou todos os quarteirões da cidade em condomínio.
Hoje, a Sidy tem 27 km de cabo, que cobrem 80% da cidade. Cobra R$ 7 ao mês por canais abertos e R$ 20 pelos distribuídos pela TVA, como Warner, Sony e MTV. Em qualquer dos casos, a taxa de adesão é de R$ 200.
Cerca de 65% dos assinantes optam pelos canais pagos, diz Siderley.
O resumo da ópera é que a TV, tocada por 17 funcionários, rende cerca de R$ 28 mil brutos ao mês.
Já há seguidores de Siderley no interior do Rio Grande do Norte. Em Açu, a 210 km de Natal, a Telecab tem cerca de 1.000 assinantes.

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