São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 1996
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"Desâncora" fiscal preocupa

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

A Secretaria do Tesouro já tem prontos os dados sobre seus gastos em 1995. Podemos compará-los com os de 1994 e a conclusão é uma só: o governo federal "torrou" dinheiro.
Em 1994, todo o setor público gerou um superávit primário de 5,1% do PIB. Quando a despesa com o pagamento de juros real (descontada a inflação) é incluída, chega-se ao resultado operacional, um superávit de 2,0% do PIB naquele ano.
Em 95, o superávit primário foi de apenas 1,1% do PIB, mas as despesas com juros aumentaram para 5,7% do PIB; assim, o resultado operacional foi um déficit de 4,6% do PIB.
Atenção: previ números desta ordem na coluna de 22/1/95, e repeti o tema em 2 de abril. Isto resultou em um encontro com Antonio Ermírio de Moraes, que, depois, tentou alertar o Presidente para onde estávamos indo, mas os economistas oficiais foram categóricos: a despesa com juros não passaria de 2% do PIB. E agora, José?
A arrecadação federal, após descontar a inflação de 15% (IGP), cresceu 53% reais em 1995. Isto deve ser um recorde mundial para um único ano!
Mas as despesas da União cresceram 68%% reais. Os gastos com pessoal, 72%, custeio e investimento, 47%, transferências constitucionais, 70%, e a conta com juros, 90%.
Por falta de uma âncora fiscal, parte do governo decidiu praticar uma política insustentável a médio prazo: manter a taxa de juros na lua, o que causa recessão e induz a uma avalanche de entrada de moeda estrangeira. Para não expandir a oferta de reais, o governo se vê obrigado a expandir a dívida interna, que, por sua vez, aumenta as despesas com juros pagas pelo Tesouro. Caímos em um círculo vicioso.
As projeções para 1996, ante este pano de fundo, causam apreensão. Dado o enorme aumento de gastos no ano passado, que em sua maioria se projeta para este ano, e uma possível queda ou estagnação na arrecadação devido à falta de crescimento na economia, o quadro está criado para que o déficit público operacional possa subir para 5% até 7% do PIB.
Assim, não há âncora cambial ou monetária que aguente. Antes disso arrebentam-se as amarras que contêm a inflação.

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