São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 1996
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País ainda vive caos econômico

TAD SZULC
DO "INTERNATIONAL PRESS SYNDICATE"

A economia mexicana se encontra numa situação caótica em consequência da repentina desvalorização em 15% do peso, ordenada pelo presidente Zedillo em 20 de dezembro de 1994, três semanas após sua posse.
Ele o fez porque a balança de pagamentos ficara tão negativa no governo anterior, do presidente Carlos Salinas de Gortari, que não tinha condições de cobrir os US$ 17 bilhões da dívida de curto prazo que deveriam ser pagos em 95.
Ao que parece, ninguém, nem mesmo Zedillo, sabia que Salinas, ao permitir que o México importasse produtos de luxo e pagasse juros sobre investimentos estrangeiros não-produtivos, havia mergulhado o país em uma catástrofe.
Até US$ 60 bilhões em dólares estrangeiros e mexicanos saíram do México, desferindo um golpe quase mortal ao país à medida que o resto de sua estrutura financeira começava a desmoronar.
Veio à tona a notícia de que bilhões de pesos em empréstimos não-pagos eram devidos aos bancos mexicanos.
O crédito desapareceu e a economia entrou em queda livre. Pessoas bem-vestidas -a nova classe média- passaram a fazer filas para penhorar jóias, pratarias de família e outros bens para ter dinheiro para comer e pagar aluguel.
Pelo menos 1 milhão de empregos assalariados desapareceram em 1995, mas, por causa do desemprego e subemprego crônicos, o número de pessoas sem renda fixa pode chegar a 10 milhões hoje -sem contar as famílias-, numa população de 95 milhões.
Como observou o célebre escritor mexicano Carlos Fuentes, quase 50 milhões de mexicanos "vivem em estado de pobreza", e "pelo menos 20 milhões, em situação de miséria".
A inflação anual no México chega aos 50%, dezenas de milhares de empresas faliram, e a renda média dos mexicanos é hoje inferior à de 1980.
Ao mesmo tempo, estima-se que 900 mil mexicanos jovens ingressem no mercado de trabalho todo ano. Tudo isso leva a crer que o desemprego nacional -e portanto a imigração para os EUA- vai continuar em rápida ascensão.
O único aspecto relativamente positivo no meio desse pesadelo todo é que com os maciços programas de planejamento familiar o México pôde reduzir seu índice de crescimento populacional.
Mesmo assim, avisa Werner Fornos, presidente do Instituto da População, sediado em Washington, "com os índices atuais de crescimento populacional, o México deverá dobrar sua população até o ano 2030, chegando a 190 milhões de habitantes" no prazo de uma geração.
(TS)

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