São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 1996
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SP gasta R$ 1,4 mi por mês com benefícios

CLÁUDIA TREVISAN; EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo de São Paulo gasta mensalmente R$ 1,4 milhão com o pagamento de 505 aposentadorias e pensões a ex-deputados estaduais e seus familiares.
Herança da extinta Carteira de Previdência da Assembléia Legislativa, o benefício é pago sem distinção de preferência política.
Entre os aposentados, estão o petista Plínio de Arruda Sampaio, o vice-prefeito de São Paulo, Solon Borges dos Reis, e o tucano Robson Marinho, chefe da Casa Civil do governo Mário Covas.
Há também os que abandonaram a política, como o ministro do TST (Tribunal Superior do Trabalho) Almir Pazzianoto e o conselheiro do Tribunal de Contas do Município de São Paulo Paulo Planet Buarque. Ambos recebem R$ 3.000 mensais.
Os benefícios foram concedidos entre 1976 e 1991, período de existência da Carteira de Previdência.
Em 91, os deputados aprovaram projeto de lei que extinguiu o instituto, mas manteve o pagamento das aposentadorias já concedidas.
Como a Carteira de Previdência era deficitária, a responsabilidade pelo pagamento das aposentadorias e pensões foi transferida para a Fazenda estadual, que arca com todos os custos.
O valor gasto mensalmente pelo governo seria suficiente para pagar o salário inicial de 5.882 professores primários da rede estadual (R$ 238 mensais por 20 horas semanais de trabalho).
A relação dos beneficiários da Carteira de Previdência foi obtida na Justiça pelo deputado Roberto Gouveia (PT).
Ele iniciou há quatro anos uma ação de "exibição judicial", na qual requeria que o governo informasse o nome dos beneficiários e os valores pagos a cada um deles.
Gouveia foi o autor do primeiro projeto de extinção da Carteira de Previdência. Mas sua proposta original previa o fim inclusive das aposentadorias já concedidas. Esse ponto foi modificado pela Assembléia.
As regras da Carteira de Previdência previam o pagamento de aposentadoria depois de oito anos de contribuição. O valor equivalia à metade do salário de deputado, que hoje é de R$ 6.000.
Se quisesse receber mais, o deputado poderia continuar a contribuir. Depois de 20 anos, receberia a aposentadoria integral.
Com a morte do ex-deputado, o pagamento é transferido a seus familiares, chamados de pensionistas. Estão nessa situação 196 das 505 pessoas beneficiadas. Do total de beneficiados, 27 recebem o valor máximo, R$ 6.000.
A ex-deputada Irma Passoni, que exerceu seu mandato filiada ao PT, ganha R$ 3.000 por mês da Carteira de Previdência.
"Eu era obrigada a contribuir e era a Previdência que eu tinha", diz Passoni. Ela afirma que concorda com a extinção da Carteira de Previdência, mas defende a existência de um sistema para aposentadoria de parlamentares.
Em sua opinião, deve ser encontrada uma fórmula que permita ao parlamentar continuar contribuindo para a Previdência comum mesmo depois de eleito.
O PT é justamente um dos maiores defensores da extinção do IPC (Instituto de Previdência dos Congressistas). A proposta está sendo discutida no âmbito da reforma previdenciária e encontra resistência dos parlamentares.
O ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio também usa o argumento da contribuição compulsória.
Sampaio afirma que encaminhou ofício à Carteira de Previdência pedindo o cancelamento de sua aposentadoria.
Recebeu a resposta de que não poderia abrir mão do pagamento por se tratar de um benefício de família. "Faço uma destinação social desses recursos. Eles não entram na minha conta", diz.

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