São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 1996
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Estado 'assenta' famílias em acampamentos

GEORGE ALONSO
DO ENVIADO ESPECIAL AO PONTAL

O governo de São Paulo não assentou o número de famílias (1.050) que afirma ter assentado no Pontal desde 31 de dezembro último, embora tenha feito várias obras e obtido recursos para as famílias "assentadas".
A rigor, para quem conhece assentamento de reforma agrária, o que se vê são acampamentos provisórios. É, de fato, um começo. Mas, para pelo menos 423 famílias, a situação atual é igual ao período anterior a 31 de dezembro.
Ou seja, vivem em acampamento precário na fazenda Haroldina.
Com uma diferença: todas as 1.050 famílias receberam R$ 840 de verba de fomento (para alimentação). Dessas, só 358 estavam nos lotes provisórios, além das 261 assentadas definitivamente nas fazendas São Bento, Santa Clara e Estrela D'Alva (únicas obtidas em definitivo pelo Estado).
Esses números foram obtidos no Departamento de Assentamento Fundiário do Itesp em Mirante do Paranapanema (SP).
A Folha visitou 8 dos 9 "assentamentos". As famílias que iriam, por exemplo, para as fazendas King Meat e Canaã estão em barracas na Santana. Ali nem os lotes provisórios foram medidos.
O governo diz que a maioria das famílias tem lotes provisórios plantados na São Bento, Santa Clara e Estrela D'Alva.
"Depois da colheita, todos vão morar em seus novos lotes", diz Elso Polizel, 28, supervisor do Itesp. "Se tivesse 100% das fazendas, poria todo mundo", emenda.
É inegável que o governo foi ágil, abriu estradas, fez vacinação, começou a limpar um alqueire por lote para o plantio, obteve verba e pôs caixas-d'água. Assim, ganhou famílias antes na órbita do MST.
Mas há receio até mesmo entre as famílias que romperam com o MST e, como elas dizem, "optaram pelo Estado". "É preciso acelerar os 70%" é a frase mais dita pelos acampados provisoriamente, que almejam lotes definitivos.
Fica claro, pelos depoimentos, que poderá haver conflito se o governo não obtiver 100% das fazendas logo. "Ninguém vai voltar para a rodovia", diz Joel Ribeiro.
Há outro complicador: nas nove fazendas só há área suficiente para 518 famílias. O governo depende de acerto com os fazendeiros sobre o pagamento das benfeitorias. E mais: até março, por acordo com MST, devem ser assentadas outras 525 famílias.
Apesar de perder apoio de assentados, o MST tem o apoio total das famílias acampadas das rodovias, esperando terra.
(GA)

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