São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 1996
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Alimentar esperança

LUIZ GONZAGA BERTELLI

A atividade da indústria paulista cresceu 3,3% no ano passado.
O resultado é bastante inferior ao registrado nos dois anos anteriores: -11,7% em 1993 e 7,9% em 1994.
Em dezembro, o Indicador do Nível de Atividade (INA), elaborado pela Fiesp/Ciesp, apresentou retração de 1,4% em relação ao mês anterior e de 16,5% na comparação com dezembro de 1994.
As vendas também sofreram quedas expressivas em dezembro. Foi apurada retração de 9,2% em relação a novembro de 1995 e de 10,6% na comparação com o mesmo mês de 1994.
Esse quadro se deve, principalmente, à dificuldade dos agentes econômicos em prever a evolução do consumo e à tentativa de reduzir ao mínimo o nível dos estoques das indústrias, tendo em vista o custo elevado do dinheiro.
Ao divulgar os dados, o Decon (Departamento de Economia) da entidade das indústrias chamou a atenção para a diferença entre o desempenho dos vários setores, que é cada vez mais acentuado.
Com efeito, as condições de sustentabilidade são muito melhores para os setores econômicos menos expostos à competição com os produtos importados e que dependem, em menor grau, do mercado financeiro para captar recursos.
Previsões
Para este ano, os integrantes do Conselho de Economia da Fiesp/Ciesp prevêem uma fase sem grande dinamismo na economia, com tendência à estabilidade.
Na avaliação dos conselheiros, os únicos fatores que podem estimular a produção e o consumo, sem pressionar a inflação, são os investimentos e as exportações.
Mais de 600 empresas brasileiras já receberam a ISO 9000, passando à condição de produzir com excepcional qualidade.
No ano de 1995, batemos o recorde de safra, produzindo 81 milhões de toneladas de grãos.
Para 1996, a expectativa é a de alcançarmos 70 milhões. É uma quebra lastimável, na ocasião em que os preços agrícolas internacionais sobem.
Os investimentos deverão se concentrar na área privada, já que o setor público não tem mais condições de investir sem a reforma fiscal.
Para que essa reativação ocorra, o Legislativo terá de regulamentar as reformas já aprovadas, como a quebra do monopólio do petróleo e a não-discriminação ao capital estrangeiro.
Quanto ao desempenho das exportações, dependerá da orientação dada à política cambial e à eliminação dos itens, que compõem o chamado "custo Brasil".
Os encargos sociais chegam a ser maiores do que o custo dos salários efetivamente pagos, enquanto nos países desenvolvidos, onde os trabalhadores ganham até cinco vezes mais do que os operários brasileiros, essa proporção é menor.
Em 1996, o Brasil irá necessitar, urgentemente, de mudanças radicais.
O Estado necessita reduzir o seu gigantismo e melhorar a sua eficiência.
Há necessidade de baixarmos os juros, os mais altos do mundo, a fim de atrairmos capitais, visando sustentar uma dívida interna de mais de US$ 100 bilhões, decorrente de governos que insistem em gastar muito mais do que a arrecadação.
No dia 1º de fevereiro, o governo sinalizou no sentido de que poderá diminuir o custo do dinheiro de forma gradativa, ao longo deste ano.
O Plano Real continua recebendo a aprovação popular e poderá consolidar-se no ano em curso.
Segundo o IBGE, o Brasil teve uma das menores taxas de desemprego do mundo (4,6%).
Existe, no entanto, uma acentuada mudança de perfil do mercado de trabalho, provocada pela queda da inflação e economia globalizada.
O ex-ministro Mário Henrique Simonsen, em declaração ao "Jornal do Brasil", disse que só vê duas saídas para melhorar a situação do emprego no Brasil: a reformulação das leis trabalhistas e o crescimento da economia.
"O resto é falatório", diz o notável mestre da FGV (Fundação getúlio Vargas).
Continua a corrupção corroendo a administração pública. Recentemente, a juíza brasileira, Denise Frossard, conhecida por ter decretado a prisão dos bicheiros do Rio de Janeiro, declarava que o Brasil é o quinto país mais corrupto do mundo.
Apesar de tudo, estamos diante da maior oportunidade de todos os tempos de reorganizarmos a nação brasileira, dos nossos sonhos e esperança.
Afinal, esta é a ditosa pátria, minha amada, na expressão do poeta Camões.

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