São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Baneb emprestou a custo zero, suspeita BC

CARI RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central suspeita que o Baneb (Banco do Estado da Bahia) concedeu empréstimos a custo zero para empresas não-financeiras do Banco Econômico, que está sob intervenção federal desde 11 de agosto do ano passado.
São cinco operações que somam US$ 19,520 milhões feitas entre abril de 91 e novembro de 92.
A Folha apurou que o BC pode iniciar uma investigação nas contas do Baneb, que é o banco estadual da Bahia, para comprovar as supostas irregularidades.
Para verificar as contas do banco estadual baiano, o Departamento de Fiscalização do BC deve instaurar um processo administrativo.
Caso sejam confirmados os empréstimos sem cobrança de juros, o BC poderá denunciar o Baneb junto ao Ministério Público por "prática de gestão temerária" -administração que coloca em risco a situação financeira de uma instituição.
A gestão temerária está prevista na Lei do Colarinho Branco e prevê reclusão dos responsáveis por um período de dois a oito anos.
As operações sob suspeita de irregularidade aconteceram quando o atual senador Antônio Carlos Magalhães (PFL) era o governador da Bahia.
Em 25 de maio de 1992, o Econômico fez uma aplicação de US$ 3,706 milhões no Baneb, que no mesmo dia emprestou igual valor à empresa Econômico S/A Empreendimentos, braço não-financeiro da instituição privada baiana.
Tanto o Banco Econômico como a empresa Econômico S/A Empreendimentos eram controladas pelo banqueiro Angelo Calmon de Sá.
O vencimento da aplicação do Econômico no Baneb era em 26 de maio de 1992, coincidentemente a mesma data para o repasse do empréstimo tomado pela Econômico S/A junto ao Baneb.
O Econômico não teria recebido de volta o valor da aplicação, que numa operação contábil teria sido desviado para a empresa não-financeira do banco de Calmon de Sá. Segundo a Folha apurou, toda a apuração não teria passado de uma simples troca de papéis.
Pelos números verificados pelo BC, não houve cobrança de juros para o empréstimo concedido pelo Baneb à empresa não-financeira, como mandam as regras do sistema bancário. Ou seja, o banco estadual baiano pode ter sido prejudicado por não cobrar juros.
Operação semelhante aconteceu em 26 de maio de 1992. O Banco Econômico aplicou no Baneb US$ 3,710 milhões. No mesmo dia, o Baneb emprestou esse valor à Econômico S/A Empreendimentos. O vencimento da aplicação e do empréstimo tinha a mesma data: 27 de maio de 1992.
O Baneb serviu de intermediador do Econômico para repassar dinheiro à sua empresa não-financeira, segundo documento enviado na semana passada pelo BC ao Ministério Público.
A Lei do Colarinho Branco proíbe empréstimos de bancos a empresas coligadas.

Texto Anterior: Lançamento de editais para venda de quatro hidrelétricas é atrasado
Próximo Texto: Presidente nega irregularidades
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.