São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 1996
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Saudades do Tarzan

MOACYR SCLIAR

"Querido Tarzan: não sei onde você está, mas fervorosamente espero que receba esta mensagem telepática formulada na língua dos macacos, que você aprendeu a falar e que usava com tanta desenvoltura, à época em que vivia na selva -um verdadeiro lar para você.
Você, Tarzan, aprendeu a conhecer e a amar os macacos. Nós o considerávamos um dos nossos. Não: nós o considerávamos o nosso líder. Tarzan, o Rei dos Macacos, você lembra? Escreveram livros sobre você, e fizeram filmes... Não admira: você era realmente um rei.
Infelizmente essa tradição não foi mantida, Tarzan. Infelizmente.
Tome o caso desse Michael Jackson. É um astro, como você. Não: é mais astro que você. Todas as TVs, todas as rádios, todos os jornais falam dele. O eco de sua fama chega até a selva... E o que nos diz esse eco, Tarzan? Nos diz uma coisa terrível: o Michael Jackson teria tido um caso com um irmão nosso. Com um macaco. Infeliz macaco.
Infeliz, sim, Tarzan. Ele foi desrespeitado. Uma coisa da qual você nunca cogitaria. Havia aquela macaca que gostava muito de você, a Chita. Ela estaria disposta a qualquer coisa por seu Rei. No entanto, você nunca abusou dela. Você aguardou que viesse, de além-mar, aquela que seria sua companheira, a Jane. Mim Tarzan, você Jane, lembra? Claro que você lembra. Você não pode ter esquecido a mulher que você amou. Com aquele puro sentimento de que só você, entre os humanos, era capaz.
Em nome desse sentimento, caro Tarzan, eu lhe peço: volte. Volte e liberte o nosso irmão macaco da humilhação que está sofrendo. Apareça, Rei dos Macacos, tome-o nos braços e leve-o para a selva que é o lugar dele.
Tenho certeza de que não faltará lugar em seu cipó para um macaquinho sofredor. Abraço de um primata amigo."

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