São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 1996
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E daí que nunca vencemos a Olimpíada?

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

O papo começou um dia após a conquista da Copa de 94, nos EUA, e foi aos poucos ganhando ares de verdade absoluta: depois do tetra só falta para o Brasil o título de campeão olímpico.
Ainda que sob o risco de soar antipático ou antipatriota, é preciso dizer que se trata de uma grande bobagem.
Quantos brasileiros, além dos patrocinadores, vão ficar chateados se essa seleção não se classificar para os Jogos Olímpicos? Quantos brasileiros vão perder o humor se, chegando em Atlanta, a seleção não conquistar a medalha de ouro?
Qual é o problema de o Brasil nunca ter conquistado um título olímpico? Se esse título olímpico é de fato importante, por que a CBF precisou esperar a seleção principal conquistar o tetra para então investir na seleção de jovens?
O que está ocorrendo é que, pela primeira vez, as nossas "autoridades" futebolísticas resolveram apostar numa seleção olímpica, investindo muito dinheiro e pessoal qualificado nela.
Para convencer a opinião pública de que esse título é de fato importante, a CBF conta com o apoio da mídia (em particular da televisão), que sabe do apelo de uma competição de futebol e está dando a esse Torneio Pré-Olímpico uma cobertura digna de Copa do Mundo.
Sugiro como reflexão um tema correlato: por que o Brasil, historicamente um dos maiores produtores de talentos futebolísticos do mundo, até hoje nunca conquistou um título olímpico?
É verdade que até o fim dos anos 80 os países da Europa Oriental disputavam os Jogos com seus atletas mais experientes, sob a justificativa de que eram todos amadores. Vale lembrar, em defesa do Brasil, que nos Jogos de Seul (Coréia), em 1988, a seleção perdeu a final para os "amadores" da então União Soviética.
Aliás, nunca vi a menor graça na disputa de futebol nos Jogos Olímpicos. Primeiro, porque nunca existiu amadorismo na categoria. Depois, porque os pós-adolescentes de países com tradição, como Brasil, Itália ou Argentina, sempre tomavam banho dos "coroas" de Polônia, Romênia, Bulgária e vizinhos.
Agora, é introduzida uma regra esdrúxula que permite às seleções inscreverem até três jogadores sem limite de idade. Por quê? Por que três e não cinco? E daí? Quem está preocupado com isso?
Volto ao tema original para perguntar: o que teria ocorrido se o Brasil tivesse ganho o ouro em 88? Ou o que acontecerá se o Brasil ganhar o ouro em Atlanta? Conquistado o "único título que falta" ao Brasil, podemos então nos esquecer do futebol praticado por menores de 23?
É óbvio que não é por aí. Um dos problemas é a falta de interesse oficial pelo futebol nas chamadas categorias de base. Com a qualidade de seus jogadores, o Brasil não estaria nessa situação -de nunca ter ganho o ouro olímpico- se a preocupação com a seleção que está na Argentina fosse estendida aos campos de todo o país onde pipocam candidatos a Juninho, Roberto Carlos e Sávio.

Hoje excepcionalmente deixamos de publicar a coluna de Matinas Suzuki Jr.

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