São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 1996
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Trilha sonora de 'Grande Hotel' tem mais humor que o filme

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os fãs do "thrash" têm uma nova e divertida atração nas lojas. Importada pela Warner, a trilha sonora de "Grande Hotel" ("Four Rooms"), em cartaz nos cinemas, é capaz de provocar mais sorrisos do que o próprio filme.
O maior responsável por isso chama-se Combustible Edison, um bem-humorado quinteto norte-americano de nome tão bizarro quanto sua música -um coquetel de trilhas sonoras de desenhos animados e velhas séries de TV, com pitadas de "muzak" de elevador.
O que mais se poderia esperar de um grupo que inclui uma soprano lírica, além de uma breguérrima guitarra havaiana e um órgão hi-fi entre seus instrumentos?
Composto por quatro histórias ambientadas em um hotel decadente, com direção de Quentin Tarantino e outros três cineastas revelados na cena alternativa dos EUA, "Grande Hotel" deve à música grande parte de seu apelo.
A começar por "Vertigogo", a canção-tema que abre e fecha o filme. A melodia é daquelas que grudam no ouvido. O arranjo inclui sininhos, um teclado kitsch e vocais tatibitates só superados em cafonice pelo grupo sueco Abba.
Recheada de ironia e paródia, a música do Combustible Edison colore e dá vida às cenas mais insossas do filme, que aliás não são poucas. Como o fraco episódio de abertura, que destaca Madonna à frente de um ritual de bruxas.
Misturando influências das trilhas de Nino Rota com debochadas guitarras dos tempos do twist, em meio a ritmos estilizados de tango, mambo e jazz, a música do quinteto fornece a dose de humor que a interpretação artificial dos atores -caso do careteiro Tim Roth- quase deixou de lado.
Até o tema da popular série televisiva "A Feiticeira" ("Bewitched") foi incluído no disco, confirmando as fontes de inspiração do Combustible. Uma ótima sacada do grupo foi incluir duas faixas com o arranjador e "band leader" Juan Garcia Esquivel, uma espécie de Ray Conniff mexicano.
Os arranjos de Esquivel para as clássicas "Sentimental Jorney" (de Green, Brown e Homer) e "Harlem Nocturne" (de Earle Hagen) são simplesmente impagáveis, misturando as bizarras guitarras havaianas, maracas e agudíssimos naipes de metais.
Tarantino e seus parceiros erraram a mão no roteiro e na direção de "Grande Hotel" -quase uma sessão de piadas entre amigos. Mas dificilmente se poderá criticá-los por não terem achado os autores certos para sua trilha.

Disco: Four Rooms
Com: Combustible Edison e Esquivel
Lançamento: Elektra/Warner
Quanto: R$ 20 (o CD, em média)

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