São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 1996
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Sonic Disruptor forja 'indie rock' brasileiro em seu primeiro álbum

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Nem só de Mamonas Assassinas vive o pop de Guarulhos. De lá vem também a banda rock Sonic Disruptor, que acaba de lançar, em esquema independente, seu primeiro disco, "Poppers", co-produzido pelo já veterano Kid Vinil (ex-Magazine).
O nome do grupo delata a fonte essencial de inspiração e influência: o Disruptor deve muito de sua sonoridade à combinação de barulho, "guitar rock" e vocais abafados da banda norte-americana Sonic Youth.
Com cinco anos de estrada, o Disruptor se formou já na década 90, mas, como acontece com o Youth, sua música é exemplar da transição entre o som dos anos 80 e o dos 90, do mainstream pop à pulverização do rock independente ("indie", no apelido de lá).
Se a explosiva banda sessentista Velvet Underground é a referência primária tanto do SY como do SD, é nos 80 que se concentra a matriz sonora e conceitual das duas bandas: reverberam nelas o neopsicodelismo e/ou o universo dark de Echo and The Bunnymen, Jesus and Mary Chain, dos inevitáveis Smiths e, no caso brasileiro, até do Violeta de Outono.
Faixas de "Poppers" como "Landscape Lane", por exemplo, quase fazem pensar que é 1985 e que o The Cure é a banda do momento.
Mas, se a matriz do SD é oitentista, a contaminação pela música dos 90 se faz plenamente em "Poppers", mais até que nos álbuns dos ídolos do Sonic Youth. O disco é perpassado de samplers, de teclados, de eletronização robocópica, de ecos de artistas dos 90, como Suede (em especial), Liz Phair, Beck e até o amalucado Pizzicato Five.
O som dos 90 se impõe particularmente nos zunidos que acompanham algumas das melhores faixas -"Plastic Sunny Car", "Perfect Dancer"- e introduzem na textura das canções sirenes policialescas que flagram a tensão perpassada de humor e auto-ironia da década que corre.
Reivindicando o status quase solitário de banda "indie" nacional, o SD equilibra-se entre o anacrônico e o contemporâneo.
O anacrônico vence na pronúncia mais que macarrônica das letras das canções, todas em inglês. O contemporâneo, na meticulosa construção sonora e na busca e aproximação de melodias pop perfeitas, como em "Maverick" e na longa "Emigrativiry" (melhor momento do disco). Assim caminha o SD, na corda bamba.

Disco: Poppers
Grupo: Sonic Disruptor
Lançamento: Open House Records (tel. 011/961-4792)
Preço: R$ 18, em média

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