São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Japão teme crise na Coréia do Norte

RAYMOND WHITAKER; RICHARD LLOYD PARRY
DO "THE INDEPENDENT", EM TÓQUIO

Notícias sobre execuções públicas em massa e a fuga de milhares de refugiados para a China estão levando o governo japonês a temer a queda iminente do regime norte-coreano.
Desde que as enchentes ocorridas na Coréia do Norte no verão passado destruíram milhares de casas e infligiram graves prejuízos à safra de arroz, que já era ruim, alguns governos estrangeiros vêm especulando que a escassez de alimentos no país possa desencadear um colapso repentino neste Estado stalinista fechado.
O Ministério do Exterior do Japão investiga informações segundo as quais milhares de refugiados que fugiram para a China durante o severo inverno norte-coreano estão sendo repatriados à força.
O serviço norte-americano de informações relatou a ocorrência de execuções públicas em massa de criminosos, e norte-coreanos que fogem para a Coréia do Sul descrevem a existência de campos de concentração no país.
Tudo isso faz crer que o regime de Pyongyang estaria recorrendo, com frequência cada vez maior, a medidas repressivas para conter o descontentamento popular provocado pela escassez de alimentos.
Após lançar um apelo inusitado por ajuda alimentar, a Coréia do Norte agora dá sinais de estar pouco à vontade com a presença das organizações humanitárias internacionais, que propiciaram o vazamento de mais informações sobre a suposta instabilidade no país.
As Forças Armadas norte-coreanas, com 1 milhão de homens e concentrada perto da zona desmilitarizada que separa as duas Coréias, são o maior foco de tensão.
"É aventada a hipótese de que o poderio militar não possa ser mantido no nível atual, e que talvez esteja minado", disse um representante da chancelaria japonesa.
"A Coréia do Sul está profundamente preocupada com a possibilidade de a Coréia do Norte tomar uma atitude desesperada".
Mas o regime de Pyongyang é tão fechado e enigmático que países vizinhos e até mesmo órgãos do governo japonês fazem interpretações diferentes de quais seriam suas intenções.
Um conflito na península coreana mergulharia o governo de Tóquio em um dilema, dividido entre sua preocupação em zelar pela segurança regional e as exigências de sua Constituição pacifista, que excluem completamente o envio de tropas de combate japonesas ao exterior.
"Acreditamos que o governo norte-coreano está prestes a cair e que uma crise é iminente", disse ao "The Independent" um representante do Ministério do Exterior.
"No caso de irromper uma guerra entre norte e sul, os aliados venceriam, mas a Coréia do Sul e os EUA sofreriam perdas consideráveis, e o Japão seria afetado."
Uma cooperação militar aberta entre Tóquio e Seul seria problemática devido aos ressentimentos históricos ainda presentes, provocados pelos 35 anos de colonização japonesa da península.
Nas últimas semanas, porém, alguns integrantes dos ministérios da Defesa dos dois países têm mantido encontros regulares para coordenar sua resposta a uma possível convulsão norte-coreana.
"A Coréia do Sul acha que essa convulsão se dará mais tarde do que supõem EUA e Japão", disse o representante do Ministério da Defesa japonês.
"Mas já concordamos que devemos nos preparar para uma possível invasão, guerra de guerrilha, invasão limitada ou guerra coreana em escala total".
Mas as reuniões, além de consultas realizadas recentemente entre diplomatas de Washington, Seul e Tóquio, revelam claras divergências, tanto em relação ao momento do antecipado colapso quanto sobre como impedi-lo.
A Coréia do Sul teme que a ajuda alimentar fornecida ao norte até agora, sob a forma de arroz, tenha ajudado o setor militar, enquanto Japão e EUA esperam que o fornecimento de certa quantidade de ajuda humanitária dê condições para Pyongyang fazer uma "aterrissagem tranquila".
É o dilema com que a região se confronta: convencer o país a sair do isolamento com a ajuda ou forçá-lo à submissão pela fome.

Texto Anterior: Diana vai a hospital do câncer no Paquistão; Papa faz críticas no início da quaresma; O NÚMERO; Livro traz escândalos dos Kennedy; Austrália aprova lei sobre a eutanásia; Capitão Astiz deixa o cargo da Marinha; Bomba explode em sede de partido francês
Próximo Texto: Presidente colombiano pede pena de morte para crimes hediondos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.