São Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 1996
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Serra nega intenção de cortar emendas

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro do Planejamento, José Serra, negou ontem que o governo tivesse a intenção de não anunciar cortes no Orçamento para evitar atritos com políticos.
"Primeiro, inventou-se que o governo iria anunciar cortes. Como não há o anúncio, inventa-se agora que o governo voltou atrás numa decisão que, na verdade, não havia tomado."
Serra afirmou que pretende cortar as emendas de parlamentares que ferirem a Constituição e a Lei de Diretrizes Orçamentárias: "É a obrigação legal". Ele nega qualquer intenção do governo de retardar a aprovação do Orçamento.
A seguir, trechos da entrevista:

Folha - Há intenção do governo em retardar a aprovação do Orçamento para evitar operar cortes em emendas propostas por parlamentares?
José Serra - Lógico que não. Tudo em contrário é absolutamente delirante, fantasioso, falta de assunto.
Folha - O relator do Orçamento tem dito que não sente empenho do governo para ver o tema aprovado no Congresso.
Serra - Eu não ouvi isso dele. Ele conversou comigo hoje (ontem) e não disse isso. Disse que, pelo contrário, o governo em nenhum momento adotou qualquer procedimento dilatório.
O fato de o Orçamento não ter sido votado até agora é de única e exclusiva responsabilidade do Congresso. Nós até entendemos que haja problemas no Congresso. Mas é importante, de todo modo, localizar os problemas onde eles estão acontecendo.
Folha - Mas, ministro, não vai ser desagradável para o governo fazer cortes no Orçamento, já que muitas das receitas não se confirmarão, como a CMF?
Serra - As pessoas falam essas coisas sem saber. A LDO para 96 diz que, quando uma receita é virtual, a despesa é condicionada. As receitas que eram objeto de projetos de lei, ou de mudanças na Constituição, não sendo aprovadas, a despesa cai automaticamente. Não precisa de veto.
Folha - Líderes do governo dizem que o Orçamento apresenta déficit. Entre outras razões, por causa da superestimação da inflação. Isso é correto?
Serra - Não. Corte supõe cortar despesa real. Apenas vamos impedir que aumente a despesa. Se o Orçamento prevê uma inflação "x" e a inflação for "x sobre 2" e você mantiver os mesmos valores, você estará dobrando a despesa.
Se eu quero manter a despesa em termos reais, eu apenas reduzo nominalmente o gasto, mas o mantenho em termos reais.
Folha - O sr. foi procurado por algum líder do governo no Congresso para discutir se é melhor aprovar o Orçamento já?
Serra - Não, nunca. O que me parece absolutamente incorreto é o seguinte: alguém infere, deduz, que seria interessante para o governo que a aprovação demorasse.
E, a partir daí, afirma que o governo está trabalhando pela demora. Esse é um procedimento total e absolutamente incorreto.
Folha - Mas as emendas que os parlamentares colocam no Orçamento serão cortadas?
Serra - Não se pode dizer antecipadamente. Não conheço o relatório final. Se contrariarem a Constituição e a LDO, é evidente que serão cortadas.
Folha - O governo cogita de não anunciar esses cortes oficialmente para preservar FHC?
Serra - Isso é falso. Primeiro, inventou-se que o governo iria anunciar cortes. Como não há o anúncio, inventa-se agora que o governo voltou atrás.

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