São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 1996
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Bananas, samba e mulher

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Depois da banana do Boris, os congressistas receberam outra espécie de banana, em versão mexicana. O presidente da República acusou os congressistas de corporativistas. Durante anos, FHC foi congressista: deve saber o que está falando.
Tanto se habituou ao corporativismo que, eleito presidente, continuou mais corporativista do que nunca, só que sua corporação agora é outra. Defende e, como executivo maior do esquema de poder, impõe os interesses de uma classe -que evidentemente não é a mesma de seus tempos de Congresso.
Fica até chato (ao menos para mim) especificar os interesses e a classe hoje defendidas pelo presidente. Ele deseja que o Congresso, mais uma vez, seja dócil a esses interesses e a essa classe.
No momento, o interesse maior da nova classe de FHC é a reeleição. O Congresso deve estar atento aos interesses do momento. Hoje aprova a reeleição que satisfaz a classe dirigente, amanhã revoga a reeleição -e a Constituição fica ao sabor dos interesses e da classe que empolgaram o poder.
Quanto à banana do Boris, gostei dela. Eu também já dei muitas bananas para o próprio Boris, quando ele defende todo o sistema de poder -menos os congressistas, que formam um poder desarmado da caneta que realmente manda no país.
A veemência do seu óbvio tem sempre um alvo menor, autoridades de terceiros escalões, pessoas caídas ou em processo de queda. É fácil dar bananas para essa gente.
Para terminar a resenha da semana: não me dei ao respeito de ver os desfiles das escolas de samba. Mesmo assim, gostei da vitória da Mocidade de Padre Miguel, tão independente que tem seu patrono na cadeia.
Vi, num relance, o sambódromo de São Paulo, em tomada aérea. Parece que é mais bonito do que o do Rio. Não acredito que São Paulo seja o túmulo do samba. A Bahia é pior, com a estridência daqueles trios elétricos e o monótono "bate-estaca" que o pessoal da TV chama de "coreografia".
Agora, bom mesmo, ainda é mulher, seja no Rio, São Paulo ou Bahia.

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