São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996 |
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Reforma prejudica eleitores de governistas
MAURICIO PULS
A mudança nas aposentadorias afetará de forma mais intensa os trabalhadores do setor informal, que agora vão precisar comprovar tempo de contribuição à Previdência para obter direito ao benefício. Essa camada social apóia majoritariamente as legendas governistas. Já os assalariados com carteira assinada, que praticamente não serão atingidos (pois o registro em carteira valerá como prova da contribuição), constituem o maior reduto eleitoral do PT (27% dos simpatizantes do partido). Dessa forma, paradoxalmente, a reforma previdenciária que o governo quer implantar prejudicará mais os eleitores de FHC do que os da oposição. Pesquisa nacional do Datafolha realizada de 4 a 6 de abril de 1995 revelou que PFL e PPR (atual PPB) eram as legendas que mais dependiam dos votos dos assalariados sem registro trabalhista. Outra categoria que enfrentará mais obstáculos para conseguir a aposentadoria será a dos trabalhadores por conta própria não-regulares (ou seja, aqueles que não pagam impostos): free-lancers, biscateiros, marreteiros etc. Eles perfaziam então 15% dos simpatizantes do PFL e do PDT, 14% dos adeptos do PPR, 13% do PSDB, 12% do PMDB e 11% do PTB. De todas essas legendas, só o PDT não apóia o governo. Os servidores públicos constituem outra categoria funcional que perderá com a reforma. A partir das mudanças na Constituição, haverá limites de idade e de tempo de contribuição para que eles possam se aposentar. A distribuição das identificações partidárias é aqui mais dividida, mas a proporção de eleitores governistas ainda predomina. Com efeito, o PSDB, partido do presidente, é o que mais depende dos votos dos funcionários públicos: 17% dos simpatizantes da legenda provêm dessa camada social. Em segundo lugar vêm o PFL e o PT, ambos com 14%. A divisão das preferências do funcionalismo mostra, contudo, que esse estrato social, tradicionalmente vinculado aos partidos governistas (em função do nepotismo e clientelismo), está sendo pouco a pouco empurrado para a oposição. Renda A distribuição das preferências partidárias por estratos de renda reforça a avaliação resultante da análise das categorias sociais. Tomando por base pesquisa realizada de 12 a 15 de dezembro de 1995, nota-se que as camadas de renda mais baixa, em geral as menos organizadas em termos sindicais, votam preferencialmente nas legendas governistas. Entre os adeptos do PT, maior partido de oposição, 19% ganham entre 10 e 20 salários mínimos. Esse é um sinal do enraizamento do partido entre os setores mais sindicalizados -o que pode ser inferido também da elevada proporção de ex-dirigentes sindicais (70%) na sua bancada federal. Já entre os simpatizantes do PSDB 18% recebem mais de 20 salários mínimos. Na pesquisa por categoria social, nota-se que 3% dos que preferem a legenda de FHC são empresários -a taxa mais alta dos partidos. Texto Anterior: Setor defende uma limitação Próximo Texto: Pobres, mas conservadores Índice |
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