São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996
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Pobres, mas conservadores

MAURÍCIO PULS
DA REDAÇÃO

Os trabalhadores de renda muito baixa não integram o eleitorado típico dos partidos de esquerda. Ao contrário, votam majoritariamente nos partidos conservadores.
Fernando Collor derrotou Lula em 1989 porque venceu entre os eleitores que recebiam até dois salários mínimos -cerca de 75% do eleitorado (Lula obteve a maioria nos demais estratos).
Esse vínculo entre os "descamisados" e os políticos conservadores não é novo: pesquisas da década de 70 já indicavam que a Arena obtinha grande votação junto aos marreteiros e empregados em serviços irregulares.
Sem vínculos com qualquer organização sindical ou política capaz de representá-los, esses trabalhadores não atuam em conjunto, mas isoladamente: não exigem direitos, esperam favores.
Por isso, terminam por apoiar os parlamentares que lhes concedam pequenas vantagens materiais: quanto maior o estado de privação do trabalhador, maior o espaço do clientelismo (troca de votos por benefícios).
Em função de sua incapacidade de organização, os "descamisados" não se identificam politicamente com os seus iguais: longe disso, apóiam líderes populistas, aos quais atribuem a força que eles mesmos não têm. Admiram neles o que não admiram em si próprios.
A imagem do seu líder é, portanto, um reflexo invertido da imagem que têm deles mesmos.

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