São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996
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Desemprego afeta colarinho azul

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Não são apenas os trabalhadores do chão-de-fábrica que estão sofrendo com o desemprego. Executivos financeiros de nível de média gerência, ceifados por processos de reestruturação, também estão penando para conseguir trabalho.
O mineiro Mácio Campos, 47, trabalhou na Philips do Brasil durante 26 anos e saiu, em maio do ano passado, com a extinção do seu último cargo, o de gerente-geral de crédito e cobrança corporativa.
A Philips reestruturou a área financeira e descentralizou a cobrança e o crédito corporativo, que passou para a responsabilidade das áreas de negócios da companhia (áudio e vídeo, iluminação, cinescópios etc).
Apesar de as empresas terem sofrido problemas fortes de crédito e cobrança com seus clientes no final de 1994 e em todo o ano de 1995, as vagas para os executivos especializados no assunto não cresceram na mesma proporção, lamenta Campos.
"Conceder crédito e coordenar a cobrança ficou mais importante com a estabilidade da economia, pois é uma atividade vital para o bom funcionamento da empresa. Se falhar, ela tem de recorrer aos bancos para recompor seu caixa", afirma.
Para ele, a baixa demanda é resultado das novas exigências do mercado, que procura agora executivos que possam atuar em várias frentes na diretoria financeira. Nos empregos aos quais se candidatou desde novembro, quando voltou a procurar trabalho, Campos deixou claro que pode também atuar na captação e aplicação de recursos, no planejamento financeiro e de fluxo de caixa, no controle de faturamento e outras atividades afins. A proximidade dos 50 anos de idade não o assusta.
"Estou otimista. Já recusei duas propostas de trabalho fora de São Paulo. Um executivo com minha experiência pode ser muito útil para empresas que queiram ousar, trazer sangue novo. Não é preciso ter 18 anos para dar o sangue e inovar", diz ele.
Para o consultor de recursos humanos Artur de Lima Neto, da Sacchi & Associados, executivos cinqentões desempregados não têm chances de voltar ao mercado de trabalho nas mesmas condições em que o deixaram.
"As empresas, simplesmente, fecham as portas para esses profissionais", diz ele.
Lima Neto -que foi colega de Campos na Philips- sustenta que as companhias que quiserem contratar profissionais experientes sem arcar com os custos normais de um alto executivo (14º salário, bônus, férias, descanso remunerado, carro, secretária etc.) podem fazê-lo de maneira temporária.
Basta contratá-lo como "free-lancer" para tocar um projeto específico, por tempo determinado -à semelhança do novo contrato de trabalho implantado por uma metalúrgica paulista.
A Sacchi está propondo às empresas esse tipo de contratação.
O administrador financeiro Fernando Homem de Mello, 36, tem diversos dos requisitos acima, mas é muito novo para aceitar um emprego temporário. Desempregado há um mês e meio, ele quer voltar ao mercado, mas não faz questão de ficar somente na área financeira.
"As empresas querem profissionais mais generalistas, e não apenas executivos especializados em tesouraria", diz Homem de Mello, ex-gerente financeiro da Dimep Gráfica e Editora Ltda.

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