São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996
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Há razões para o otimismo

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

Vamos tomar hoje um ângulo mais amplo. É tempo de se reconhecer que, após muita crise, o país passou por mudanças profundas nos seus anos de desesperança de 1992 e 1994. O impeachment de Collor, o Plano Real e a maturidade da eleição de 1994 são sinais disso.
Em primeiro lugar, apesar do quadro quase caótico da administração pública, a democracia floresceu no Brasil. É, hoje, das mais sólidas do continente.
Segundo, houve um amadurecimento político. Difundiu-se a noção de que o governo deve prestar contas de seus atos. Mas cresceu, também, a consciência de que o governo não é o culpado de tudo. Por isso, florescem iniciativas que visam diminuir o paternalismo e o parasitismo estatais.
Terceiro, não temos escassez de capacidade empresarial, há uma força de trabalho numerosa e disposta a sacrifícios, e cedo se aprende que é preciso ter tolerância para a vida em grupo. São qualidades neste mundo onde o avanço tecnológico é veloz. Criamos uma cultura que favorece a inovação. Temos pouco apego ao passado: queremos o futuro!
Nem tudo são flores, no entanto. Nosso principal desafio agora é o de melhorar e ampliar a educação básica e de nível médio. Se necessário, que se tirem recursos das universidades.
E é preciso iniciar uma paulatina redistribuição da renda com políticas que estimulem a criação de empregos, a abertura de créditos a juros baixos para pequenas empresas, e com o aumento do salário mínimo (bode espiatório de outros males). Nenhuma dessas políticas é incendiária, mas os problemas sociais o serão, se continuarem a piorar.
O Brasil pode crescer de 6% a 7% ao ano nos próximos dez anos. A poupança privada sobre o PIB cresceu para quase 22% e é seguro contar com uma poupança externa de mais uns 2%. Basta o governo manter suas contas em equilíbrio e teremos recursos para uma taxa de investimento/PIB de 24%, que permitiria ao país crescer 7%. Nos anos 70, por exemplo, crescemos, 8% ao ano, com uma taxa de investimento/PIB de 22%.
O desafio do presente não é o de como crescer, mas o de como enfrentar as disparidades sociais. Apesar dos discursos, pouca ação se efetivou nesta área. E isto precisa mudar.

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