São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996
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Soa o alarme

Dados de janeiro mostram que a situação financeira da União é verdadeiramente difícil. A dívida pública cresceu em um mês mais do que em todo o primeiro ano do Real. O país está em uma rota insustentável. Nos primeiros 31 dias de 96 a União emitiu títulos no valor de R$ 8,4 bilhões, segundo dados preliminares do BC. Entre junho de 94 e junho de 95, o endividamento foi de R$ 7,74 bilhões.
No primeiro semestre do Plano, o governo desperdiçou a oportunidade de reduzir a dívida à medida que a sociedade trocava espontaneamente parte das aplicações financeiras por moeda corrente e reservas bancárias à vista.
A chamada base monetária passou de R$ 3,5 bilhões em junho de 94 para R$ 17,3 bilhões em dezembro do mesmo ano. Pois bem, o que o governo ganhava com essa monetização, gastava com o pagamento de juros estratosféricos. Em vez de cair, a dívida federal ficou praticamente estável em R$ 62 bilhões nesse período.
A partir de janeiro de 95, cessou o rápido movimento de monetização. A base monetária, já no novo patamar, oscilou mês a mês entre R$ 14,4 bilhões e R$ 20,7 bilhões. Durante os primeiros quatro meses de 95, a contenção do endividamento federal ainda ganhou último fôlego com a saída de capitais.
O BC registrou a saída de US$ 4,3 bilhões do país como fator de contenção da base monetária ampliada (que inclui os títulos federais). Por mais que muitos apontem o atual nível de reservas como excessivo, sua redução só pode ser, é óbvio, um expediente eventual.
Assim, cessaram todas as mágicas e tudo contribuiu para o endividamento. A maior parte dos capitais atraídos pelos altíssimos juros transformou-se em dívida pública.
Com a queda da inflação, caiu drasticamente a possibilidade de conter os gastos do Estado pelo expediente de atrasar pagamentos para corroê-los pela inflação.
Finalmente, a conta financeira explodiu em toda sua dimensão. A União gastou em média R$ 2,14 bilhões em juros ao mês entre abril do ano passado e janeiro último. Excluídos os gastos com juros, a União registrou um pequeno superávit no mesmo período, de R$ 159 milhões ao mês em média.
O desempenho extraordinariamente ruim de janeiro é, assim, uma espécie de síntese do descontrole orçamentário e da ciranda financeira. Para ele contribuíram R$ 2,3 bilhões de juros, compra de divisas no valor de R$ 2,2 bilhões e mais um déficit do Tesouro de R$ 2,4 bilhões, além de outras contas menores. No que toca ao Tesouro, somam-se a insuficiente contenção de gastos e o efeito perverso das medidas de desaceleração da economia sobre a arrecadação.
É urgente controlar os gastos públicos em todas as áreas, no Orçamento e nos custos financeiros. Não razão para tergiversar.

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