São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996
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Acordar ou abolir

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação, entidade privada do Rio de Janeiro com 23 anos de vida, está lançando agora um boletim ("Carta Mensal Educacional"), cujo número inaugural mostra que os problemas da educação no Brasil são tão ou mais antigos do que o país.
Começa pelo fato de que, desde a independência, o Brasil teve 166 ministros encarregados da área educacional, o que dá pouco mais de um ministro por ano.
Consequência lógica: absoluta descontinuidade de políticas educacionais, com os resultados conhecidos.
Resultados, aliás, que já eram apontados com dureza, no início do século, pelo então ministro da Justiça e Negócios Interiores, Joaquim Seabra, também responsável pela área educacional.
"O ensino chegou a um estado de anarquia e descrédito que ou faz-se sua reforma radical ou é preferível aboli-lo de vez", dizia Seabra. Qualquer semelhança com o "Acorda, Brasil -É Hora da Escola", lançado por Paulo Renato, o mais recente substituto de Joaquim Seabra, não é coincidência.
Fica claro que o Brasil, no julgamento de suas próprias autoridades, jogou um século fora nesse território crítico, ainda mais agora que o conhecimento é ferramenta essencial para viver no mundo moderno.
O Instituto do Rio elogia as propostas de reforma educacional lançadas pelo ministro Paulo Renato, mas cobra, com razão, o envolvimento da sociedade no processo.
"O complemento para as ações governamentais está na dependência da mobilização; sendo feita, o sucesso será permanente. Não ocorrendo, os projetos correm o risco de serem arquivados e esquecidos logo após a troca do ministro ou o fim de um governo", diz o editorial, assinado por João Roberto Moreira Alves, presidente do Instituto.
Os antecedentes do sistema educacional brasileiro e o seu progressivo sucateamento parecem dar razão ao chamamento. De fato, é ilusório confiar ao governo, seja ele federal ou estadual, o monopólio das idéias e iniciativas nessa como em qualquer outra área.
Resta saber se a sociedade está disposta a sair do comodismo para enfrentar o desafio ou se, um século depois, prefere, como dizia Joaquim Seabra, abolir de uma vez o ensino, pelo seu evidente estado falimentar.

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