São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996
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O louco e o idiota

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Há confusão entre a loucura e a idiotice. A vulgar apreensão considera os dois fenômenos (a loucura e a idiotice) como coisas iguais. E nada mais diferente do que um louco e um idiota. O ideal seria dar exemplos concretos, nominais. Prefiro contar uma velha piada que não tem muita graça, mas esclarece a questão.
O sujeito passava de carro em frente ao hospício quando o pneu arriou. Virou-se sozinho. Tirou a calota (os carros tinham calotas na época), desaparafusou os quatro parafusos que prendiam a roda, apanhou o estepe, fez a troca. Nisso, um outro carro passou em cima da calota, os quatro parafusos voaram e caíram num ralo.
Pronto. O sujeito ficou sem saber o que fazer. Só então reparou que havia um louco na janela do hospício, olhando para ele e para seu problema. Evidente que, dele, não podia vir ajuda.
Mas o louco ensinou: "Cada roda tem quatro parafusos. Tira um de cada roda, você fica com três para prender o estepe. E as quatro rodas ficarão presas, cada uma com três parafusos. Dá para chegar ao fim do mundo, mas dá também para chegar à primeira oficina".
O sujeito obedeceu, viu que o louco tinha razão, tirou um parafuso de cada roda e prendeu o estepe. Voltou ao volante e pensou em agradecer ao maluco que, da janela, ria para ele, amistosamente. Achou que era demais e perguntou:
"Afinal, está aí no hospício por quê? Tenho a impressão de que você é muito normal!"
Com o riso mais aberto ainda, o maluco respondeu:
"Meu caro, eu estou aqui no hospício porque sou louco e não por ser idiota!"
Se a piada é antiga e todos a conhecem, peço mil perdões. Embora sem graça (avisei antes), ela serve de ilustração ao que desejava dizer: o louco, quando não atinge o estágio da fúria, é inofensivo, não faz mal a ninguém, só a si mesmo, às vezes.
Já o idiota é imutável, não tem estágios, não é furioso nem plácido, é sempre idiota, pura e simplesmente idiota.

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