São Paulo, quinta-feira, 29 de fevereiro de 1996
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Transplantes de órgãos

Uma das únicas certezas da vida é a morte. Como é um fato bastante desagradável, não nos agrada nele pensar. Dessa forma, a maioria da população, que doaria seus órgãos para salvar a vida de outrem, não manifesta essa intenção em vida como exige a legislação. O resultado é uma enorme fila de espera por órgãos disponíveis para doação (só na cidade de São Paulo são 10 mil), muito sofrimento e muitas mortes.
O protesto de um portador de doença renal crônica numa inusitada greve de hemodiálise conseguiu com que o Senado apressasse a votação de projeto de lei que torna a doação de órgãos um procedimento padrão, a menos que, em vida, o cidadão se manifeste em contrário.
Pesquisa Datafolha realizada em maio do ano passado revela que 75% dos paulistanos doariam seus órgãos, mas 63% não sabem como fazê-lo. Apenas 15% não doariam sob nenhuma circunstância.
Assim, a aprovação do projeto é altamente recomendável, sendo talvez a única medida eficiente e relativamente simples de salvar ou melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas em todo o país.
Os críticos da iniciativa que alegam que uma tal lei estimularia o mercado negro de órgãos parecem equivocados. Não faz sentido não promulgar uma boa lei simplesmente porque ela pode ser burlada. Se de fato for, cabe aos responsáveis responder na Justiça.
Tão importante quanto aprovar o projeto de lei é capacitar os hospitais e pessoal a identificar a morte cerebral e proceder à retirada e conservação dos órgãos e tecidos, além de criar um sistema informatizado de comunicação entre os hospitais. Caso contrário, o país corre o risco de apenas vir a conhecer mais uma lei natimorta.

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