São Paulo, quinta-feira, 29 de fevereiro de 1996
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Frankenstein

Como se já não bastasse o vaivém das negociações em torno do Banespa, hoje enfrentando a oposição no Senado, o governo paulista abriu nova frente de conflitos aderindo à mesma guerra fiscal que o governador antes condenava.
Trata-se de eliminar custos indiretos (impostos, taxas, contribuições) para tornar o investimento mais atrativo para o empresário.
Entretanto, vale a advertência que os economistas costumam lançar contra as idéias simples: elas só podem surtir efeito quando implementadas por um pequeno número de agentes. É como ficar de pé no estádio para ver melhor. Se todos fizerem o mesmo, o resultado é nulo para cada um dos "espertos".
Enquanto não vem uma reforma econômica que altere o sistema tributário, conferindo-lhe maior simplicidade e consistência, as iniciativas de flexibilização (para gerar mais investimentos) funcionam apenas à medida que tenham um caráter excepcional.
No caso da guerra fiscal, é evidente que a sua generalização apenas aumenta a irracionalidade do sistema. E, quando um Estado do porte de São Paulo adere à tática, os riscos são ainda maiores.
Mais ganhariam os governadores e políticos -bem como toda a sociedade- se empenhassem esforços em favor de uma reforma tributária que, inacreditavelmente, sumiu da agenda e nem mesmo se sabe quando voltará.
Nas atuais circunstâncias, vale a lógica dos remendos e ataduras que, numa guerra de todos contra todos, criará nada mais que um frankenstein econômico e fiscal destinado a voltar-se contra seus próprios criadores.

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