São Paulo, quinta-feira, 29 de fevereiro de 1996
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Se fosse o Sarney

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Frase ouvida pela Folha ontem no gabinete do presidente do Senado, José Sarney: "Se o chefe tivesse criado um Proer, quando presidente, teria sido deposto, preso e deportado".
Chefe é o próprio Sarney, claro. Proer, como se sabe, é o programa que facilita a fusão ou incorporação de bancos em dificuldades, naturalmente com ajuda do Tesouro. Parte-se do princípio de que deixar um banco quebrar abre o que os economistas adoram chamar de "crise sistêmica", ou seja, abala a confiança em todo o sistema bancário e não apenas no banco falido ou em vias de quebrar.
O princípio pode ser até correto, mas o caso do Banco Nacional está abrindo uma verdadeira avenida de dúvidas, de que a frase ouvida no gabinete de Sarney é a síntese mais acabada.
Há congressistas de peso que fazem um raciocínio que pode até não ser verdadeiro, mas tem impecável lógica: "Se o Nacional, com a imagem de banco austero, tinha uns 600 empréstimos fictícios (para maquiar a sua verdadeira situação), os outros bancos também devem tê-los".
Não necessariamente, claro. Mas esse tipo de raciocínio é obviamente estimulado pelo fato de o Banco Central assumir a informação de que sabia, desde outubro de 95, desse tipo de irregularidade no Nacional, e, não obstante, ter demorado mais de um mês para agir.
Pior: segundo o "Jornal do Brasil" de ontem, o BC detectou em maio de 94 (Pedro Malan era o presidente) outra classe de irregularidade no mesmo banco (em operações de conversão da dívida externa). E nada aconteceu de lá para novembro de 95, quando se fizeram, quase simultaneamente, a intervenção no Nacional e a sua transferência para outro controlador.
Mais: as irregularidades que Malan, como presidente do BC, apontou em 94 vinham desde 88 e passaram incólumes pela fiscalização.
Acrescente-se a tudo isso o fato de que as maracutaias do Nacional escaparam não só das autoridades fiscalizadoras públicas, mas também de uma auditoria privada (a sexta maior do mundo, aliás). Pronto, dá mesmo para se pensar como o faz o senador Pedro Simon (PMDB-RS), com seu verbo sempre forte: "Qualquer 'pedro simon' da vida vai querer recolher seu dinheiro e remeter para o exterior".

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