São Paulo, sexta-feira, 1 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Caso Nacional assusta investidor externo

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise com o escândalo do Banco Nacional afetou ontem os títulos da dívida externa e as Bolsas de Valores.
A Bolsa paulista fechou com baixa de 4,64% -o que equivale a perder em um só dia mais do que se pode ganhar aplicando os recursos em um fundo de 60 dias.
"Houve uma mudança considerável no mercado", diz Márcio Verri, diretor-adjunto de tesouraria do Banco de Boston.
Mesmo papéis de segunda linha, que vinham tendo seus preços sustentados pelos investidores estrangeiros, registraram perdas significativas.
É o caso de Aracruz, que caiu 6,76%, Petróleo Ipiranga (-6,36%) e Cemig (-7,4%).
O C-Bond, mais negociado título da dívida externa brasileira, chegou a ser negociado por US$ 0,58 (queda de 4,13% em relação ao dia anterior). Depois reagiu e fechou cotado a US$ 0,6025 (queda de 0,4%).
Para Verri, "não é que os estrangeiros estejam vendendo, mas eles pararam para ver o que está acontecendo e quais serão os desdobramentos dessa turbulência em torno do BC (Banco Central)".
O clima de expectativa, diz, deve perdurar até a próxima semana, quando o presidente do BC, Gustavo Loyola, depõe no Senado.
Os estrangeiros temem que a crise possa ter desdobramentos políticos, "afetando o calendário e a velocidade das reformas", afirma Nicola Tingas, economista do Banco Norchem.
Tingas lembra ainda que o Congresso colocou em discussão o Proer (programa de incentivo a fusões e aquisições bancárias), obrigando o BC a "demonstrar de forma mais transparente como está sendo conduzindo o processo".
O Proer, criado quando foi arquitetada a solução para o Banco Nacional -a instituição foi dividida, com a parte boa vendida para o Unibanco-, foi um dos instrumentos usados pelo governo para contornar uma crise de confiança no sistema bancário.
Os analistas ouvidos pela Folha acreditam que tanto os títulos quanto as Bolsas sofreram também com a alta dos juros dos títulos norte-americanos de 30 anos, que chegaram a bater em 6,54%.
A alta dessa taxa afeta o conjunto do mercado -inclusive títulos e Bolsas da toda América Latina. Mas, no caso do Brasil, existe ainda essa incógnita específica: os desdobramentos políticos e econômicos da crise do Nacional.
Ou seja, se o comportamento internacional já tornava desfavorável a aplicação nos mercados emergentes, a crise do Nacional acabou por aumentar o chamado "risco Brasil".
Marcos Lederman, diretor do Indosuez Capital DTVM, diz que, se a taxa de juros dos EUA voltar a se estabilizar, "os fatores locais se tornarão mais preponderantes".

LEIA MAIS
sobre mercado financeiro na pág. 2-4

Texto Anterior: Presidente falou das dificuldades
Próximo Texto: Economista quer 2 'BCs'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.