São Paulo, sexta-feira, 1 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para auditor, objetivo não é 'pegar ladrão'

FERNANDO PAULINO NETO
DA SUCURSAL DO RIO

O auditor responsável pelo último balanço do Banco Nacional, Marco Aurélio Maciel, disse que não é objetivo de auditoria pegar ladrão".
Ele afirmou que fraudes podem aparecer ou não", mas é muito difícil detectá-las quando são feitas pela alta direção da empresa".
Maciel é sócio da KPMG, empresa que fez a auditoria dos balanços do Nacional desde 1988.
Maciel diz que para se resguardar deste tipo de acontecimentos, a KPMG, como último processo de uma auditoria, faz a diretoria da empresa assinar um documento em que garante que todos os procedimentos foram corretamente seguidos.
O documento chama-se "carta de representação da diretoria" e, entre outros pontos, os administradores garantem que "não existem documentos falseados, que tudo está contabilizado, que não existe falta de registros e que tudo que está vencido está provisionado."
"Eu tenho esse documento", disse Maciel. Provisão, no balanço, é o dinheiro reservado para um pagamento futuro ou, em caso de banco, para cobrir um ativo (crédito) ruim.
Maciel disse que "o principal objetivo da auditoria é dar opinião sobre a qualidade e integridade das demonstrações financeiras". Ele afirma que a responsabilidade sobre os dados recai sobre a diretoria e o contador da empresa.
Maciel diz que este tipo de fraude, envolvendo diretoria de empresas, é muito comum nos EUA e Europa, onde os auditores são processados.
Ele é favorável a que haja processos deste tipo no Brasil também.
Segundo Maciel, no mundo todo as auditorias pegam poucas fraudes. Ele citou pesquisa da KPMG norte-americana entre as empresas daquele país que sofreram fraudes.
Em 1993, apenas 3% dos ilícitos foram detectados por auditorias externas. Em 1994, último dado disponível, este número aumentou para 5%.
Para explicar porque as fraudes da alta administração são difíceis de pegar, Maciel explica que a auditoria pressupõe que os controles financeiros estão corretos. "Se a alta administração quebra estes controles, você perde o controle da situação", disse.
O auditor diz que, no caso do Banco Nacional, os empréstimos fraudulentos eram muito pulverizados em diversas agências e as contas eram marcadas, o que significa que, ao listar as contas no computador, estas não apareciam.
Maciel disse que a auditoria chegou a captar um aumento dos empréstimos no balanço do Nacional, o que não foi considerado irregular.
O auditor diz que chegou a comentar o fato com os diretores do Nacional que afirmaram que estavam aumentando os empréstimos para se preparar para a inflação baixa.
"Eles trabalhavam muito elevados (nos créditos), mas não ultrapassavam os limites legais do BC", disse Maciel.
Maciel lembra que no último balanço do Nacional, publicado a 30 de setembro, o relatório da auditoria afirmava que o banco estava perdendo depósitos, que recorria ao mercado interbancário para financiar seus ativos e procurava soluções de mercado.
A expressão "soluções de mercado" significaria que o banco procurava compradores.
Maciel diz que é impossível fazer uma auditoria completa no banco por causa de seu gigantismo. Ele diz que a auditoria é feita por amostragem.
O auditor disse que a KPMG tem por norma, quando começa a trabalhar para um cliente, "fazer uma investigação da diretoria para ver se são pessoas íntegras", o que, diz, foi feito no Nacional.

Texto Anterior: TCU cancela audiência
Próximo Texto: KPMG ameaça com um processo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.