São Paulo, sexta-feira, 1 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O lugar do buraco

JANIO DE FREITAS

Os irmãos Magalhães Pinto deixaram um marco que permite identificar, no tempo, o ponto em que sua má administração no Banco Nacional os levou a iniciar a procura de soluções inconvencionais. O marco é valioso porque, no atual quadro de distorções mal-intencionadas e imprecisões do sensacionalismo, só as datas e fases corretas do caso Nacional evitarão que culpas e inocências sejam distribuídas, como está ocorrendo, com mais endereços errados do que certos.
Há precisos nove anos, os irmãos Magalhães Pinto procuraram a intermediação de um famoso economista para oferecer o Banco Nacional ao Banco Garantia. As condições oferecidas eram tão sedutoras, a começar do preço, que o motivo da proposta só podia ser um. O Nacional, claro, estava com problemas graves, que os donos-administradores não se sentiam em condições de superar.
Apesar das condições, o Garantia não quis fechar o negócio. É incerto se houve procura de outros possíveis compradores, mas é certo que os Magalhães Pinto, buscando soluções internas com substituições na equipe dirigente, abriram então o caminho que os levou à situação atual. Entre os funcionários promovidos a diretores e os diretores tirados do Citibank, surgiram as fórmulas fraudulentas que, escondendo o rombo, permitiram aos Magalhães Pinto conduzir o Nacional como se fosse sólido e lucrativo.
Os problemas e irregularidades do Nacional não datam, portanto, de qualquer dos anos recentes que têm sido citados. Seu estouro não decorreu de que o Plano Real tenha "espremido o tumor" que havia nele, como pretende a interpretação servida anteontem pelo presidente Fernando Henrique. Foram nove anos de aumento incessante do rombo.
Quando enfim o Nacional ruiu, no segundo semestre do ano passado, não foi também "por causa da queda da inflação", mas como resultado de entendimentos que vinham dos primeiros meses de 94, estando Pedro Malan na presidência do Banco Central e Fernando Henrique na Fazenda. Naquela ocasião, foi ao Banco Central um advogado, provavelmente do prestigioso escritório Bulhões Pedreira, relatando alguns dos problemas do Nacional e buscando uma solução útil para os Magalhães Pinto e para o BC.
A saída consistia em preservar a imagem do Nacional, com a ajuda do Banco Central, enquanto eram procurados possíveis compradores. O BC fez a parte que lhe cabia, mas recorrer com frequência ao seu socorro levaria fortalecer os boatos de que o Nacional fazia água. Graças à direção do BC, o Nacional passou a receber ajuda, igualmente governamental, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica (quando da intervenção, em novembro, o Nacional devia mais de R$ 3,5 bilhões ao BB e à CEF).
Na fantasia com que "romperam o silêncio do Banco Central", seus dirigentes Adilson Ferreira e Luiz Carlos Alvarez, em vez de explicar por que o BC jamais agiu contra o Nacional, disseram só ter sabido das fraudes em outubro de 95. E por especial gentileza de Marcos Magalhães Pinto, que os dois do BC se aplicaram em dar, pela suposta confissão espontânea, como merecedor de admiração.
O que acontecia era o desencontro entre os números positivos, que o Nacional apresentava, e o rombo que o devorara. Para receber os bilhões do governo federal, só mostrando onde e como o rombo se escondia. A explicação resultou bem, resultou em R$ 5,8 bilhões. E na fórmula em que nós outros vamos pagar pela venda do Nacional -mas aí já é outro capítulo.

Texto Anterior: Gates cede direitos ao programa de Ruth
Próximo Texto: PMDB recua e emperra o projeto que acaba com IPC
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.