São Paulo, sexta-feira, 1 de março de 1996
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A realidade do livro didático

WANDER SOARES

Em artigo assinado, publicado dia 8/2/96 pela Folha, o professor Hélio Deliberador fez uma série de questionamentos a respeito do livro didático brasileiro. Concordando com o professor sobre a importância do debate sobre os temas que dizem respeito a todos os cidadãos, temos algumas considerações a fazer.
Ao contrário do que afirma o professor, não existe silêncio "sobre a questão do preço do livro didático". Só a Folha publicou -em menos de 15 dias- duas grandes reportagens com esse tema. Mas sempre que se discute sobre livros didáticos, isso é feito de forma segmentada, não se levando em conta todos os fatores que envolvem sua produção e seus diferentes mercados.
Cada editora prepara sua tabela de preços, com valores uniformes para todas as livrarias. É o chamado preço de capa. Não vemos nisso nenhum abuso, mas sim o respeito ao nosso consumidor.
Antes de chegar às mãos dos estudantes, o livro passa por uma dezena de processos. Primeiro, está todo o desenvolvimento e/ou atualização do projeto editorial.
Isso já exige um investimento altíssimo, com retorno de longo prazo, demandando anos de trabalho, incluindo a participação e remuneração de profissionais qualificados.
Quando preparam uma coleção para o 1º grau, as editoras gastam em média US$ 1 milhão durante a elaboração do projeto, o que não inclui a impressão dos exemplares.
Outro fato pouco conhecido é a distribuição gratuita de livros para os professores. Anualmente são entregues livros de todas as matérias para que professores do país inteiro possam analisar e indicar a obra que melhor atende sua programação.
A tiragem desses livros é muito grande, mas maior ainda é o gasto com distribuição, direitos autorais, o crescente número de inadimplências e o investimento total.
É verdade que não são todos os pais que têm condições de gastar mais de quatro salários mínimos em material escolar para seus filhos.
Para suprir este problema o governo está distribuindo este ano cerca de 110 milhões de livros gratuitos, que irão atender os alunos da rede pública. Deve-se considerar ainda que os gastos com a compra de livros ocorrem apenas uma vez por ano e, ao contrário das mensalidades, dilui-se ao longo dos 12 meses.
Mas não se pode dizer que as editoras de livros escolares se constituem um oligopólio.
Elas são empresas que competem normalmente, com políticas muito bem definidas de produção e preço. Não se pode imaginar que, numa área tão competitiva, em que qualidade e preço são fundamentais, possa sobreviver a figura anacrônica de um oligopólio.

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