São Paulo, sexta-feira, 1 de março de 1996
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Simulacro da opulência

Considerando sua atividade fim, é inquietante constatar que certas escolas, em vez de oferecer exemplos educativos, caminhem justamente na direção oposta.
Algumas listas de material escolar para este ano letivo fariam um desavisado imaginar que no Brasil a opulência é regra, não exceção. Alunos da 1ª série de uma escola estadual da capital terão de gastar R$ 120,00 para adquirir 46 itens de uma lista na qual solicitam-se, por exemplo, 500 folhas de papel sulfite, quatro borrachas e 17 cadernos. Já em uma escola particular da zona sul, listas de material para crianças de dois a quatro anos de idade apresentam nada menos que 72 itens, com custos de R$ 135,00.
A dramaticidade desse conduta perdulária, instigada por quem a rigor deveria estimular a conduta parcimoniosa, fica mais cruelmente explicitada se for considerado que, segundo dados do último censo do IBGE, de 91, 9,4 milhões de crianças de até seis anos pertenciam a famílias cujo chefe ganhava até um salário mínimo, e 5,6 milhões na mesma faixa etária estavam sob responsabilidade de alguém que recebia até dois salários mínimos por mês. Esse é o perfil dos que teoricamente deveriam estar se matriculando nas escolas públicas. Mas mesmo para famílias de classe média, a extravagância dessas listas só pode ser um convite à conduta perdulária das crianças.
Em vez de fomentar a dissipação, caberia aos educadores dar um eloquente exemplo de moderação no trato dos recursos materiais necessários à atividade escolar.

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