São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Agência tem grupo de modelos com HIV

DE NOVA YORK

Uma vez por semana, o modelo gaúcho M., 30, que é portador do vírus da Aids, sai de seu apartamento em um antigo hotel do lado oeste de Manhattan, em frente ao Central Park, para ir com o namorado Andrew, jornalista italiano, a uma terapia para casais homossexuais em que um dos dois seja soropositivo.
O grau de especialização deste tipo de serviço mostra como Nova York está preparada para conviver com portadores do vírus da Aids, principalmente os gays.
A Morgan Agency, agência de modelos americana, é o melhor exemplo de como os portadores do HIV conseguiram conquistar direitos nos EUA.
Um ramo da agência reúne apenas modelos soropositivos, contratados, na maioria das vezes, para participar de anúncios voltados para a comunidade homossexual da cidade.
M. entrou para a agência no início do ano e já foi chamado para três trabalhos.
"Recebo entre US$ 300 e US$ 1.200 por cada sessão de fotos. Como não chega a ser muito desgastante, posso trabalhar mesmo sendo soropositivo", afirma M.
Para o assistente social Wagner Denuzzo, em Nova York os portadores do vírus HIV têm mais facilidade em aceitar sua homossexualidade, fundamental para enfrentar o vírus da Aids.
"Em Nova York, o homossexual se sente muito confortável porque tem um espaço para desenvolver sua identidade", afirma o psicanalista brasileiro Contardo Calligaris.
Uma das maiores provas de que Nova York é o paraíso gay do mundo é o número de bares e restaurantes voltados para homossexuais masculinos. Apenas em Manhattan são 300.
Sem contar Queens, Brooklyn e Bronx. No Queens (que concentra grande parte da comunidade de brasileiros de Nova York) há até um bar gay com o sugestivo nome de "Bum-Bum".
Também há dezenas de livrarias, locadoras de vídeo, academias de ginástica, agências de viagens e cabeleireiros só para homossexuais na cidade.
A oferta de serviços e produtos é tão grande que existe uma exposição anual voltada somente para o mercado homossexual.
Até as igrejas tiveram que se adaptar ao número crescente da população gay na cidade.
Em Manhattan, há sinagogas, igrejas e templos que fazem uma releitura dos livros sagrados para celebrar casamentos entre homossexuais.
O próprio Denuzzo é um exemplo de como Nova York é uma das melhores cidades para casais homossexuais. Há oito anos, Denuzzo mora com o psicanalista americano James Cassese, que tem entre seus clientes de consultório pelo menos cinco brasileiros.
Os dois moram em Chelsea, um dos principais bairros homossexuais de Nova York, e se orgulham de dizer que têm o casamento mais estável da cidade.
"Oito anos juntos aqui é muito. Nós somos uma raridade, mesmo entre os casais heterossexuais."

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