São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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LÍNGUA MORTA

Uma nova ameaça paira sobre a língua portuguesa. Depois de os economistas e cientistas poluírem a última flor do lácio com termos estrangeiros de necessidade duvidosa, vêm agora os especialistas em informática com expressões como "deletar", "ressetar" (com um ou dois esses?), "backup" "et caetera". Por que não usar os simples e portugueses equivalentes "apagar", "religar" e "cópia de segurança"?
É evidente que as línguas evoluem recebendo influências umas das outras. De outro modo, o próprio português não existiria, e nós ainda estaríamos falando o indo-europeu.
Sem cair no extremo xenófobo dos franceses que, por força de lei, pretendem eliminar os anglicismos, há que se reconhecer que devem existir certos limites para a incorporação de termos de outros idiomas. Em primeiro lugar, é preciso que não exista um equivalente vernáculo, ou seja, que a nova palavra de fato enriqueça a língua e não a deturpe dando-lhe apenas um sotaque estrangeiro.
Não se trata de purismo ou amor incontido pelo passado, mas sim de preservar um léxico que permita a comunicação entre os mais variados setores da sociedade. Quem chegar a um trabalhador rural, por exemplo, e pedir-lhe que "delete" alguma coisa, certamente não se fará compreender. Já o bom e velho "apagar" é termo conhecido de todos os que dominam minimamente o português. Tentar preservar a língua adquire, assim, um caráter socializante.
A batalha contra o "informatiquês" deve ser travada enquanto é tempo, ou o idioma português correrá o sério risco de tornar-se a mais viva das línguas mortas.

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