São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Fernando e Felipe

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A menos que as pesquisas estejam completamente equivocadas, Felipe González perderá hoje o poder na Espanha, após 13 anos consecutivos de governo.
Se confirmada, será uma derrota carregada de lições para seu amigo Fernando Henrique Cardoso.
González não perde por incompetência administrativa nem porque a situação econômico-social de seu país seja complicada. Ao contrário. Felipe tem muito mais motivos do que Fernando para orgulhar-se de seu desempenho no poder.
Para citar uma só área, certamente de agrado de ambos: hoje, há 82% mais espanhóis frequentando a universidade do que em 82, quando González assumiu.
Cada espanhol é, em tese, uns 40% mais rico do que era 13 anos atrás, o que permite que consuma mais não apenas frango, a ave-símbolo do tucanato, mas carne, frutos do mar, o diabo.
Fernando poderia retrucar que, se lhe dessem o tempo de poder que o eleitorado espanhol concedeu a Felipe, produziria resultados até mais impressionantes.
É aí que começam as lições mencionadas no início. A previsível derrota de González é acima de tudo fruto da prepotência, associada ao longo tempo no conforto do Palácio de Moncloa, a sede governamental espanhola.
A prepotência fez com que, aos poucos, o "felipismo" fosse desprezando todos os sinais de deterioração de seu partido e de suas equipes de governo, até que se tornou irrecuperável.
Fernando começou mais cedo do que Felipe a transitar pelo caminho se não da prepotência (o que talvez seja exagerado dizer-se dele), mas, ao menos, da soberba, sua prima-irmã.
Felipe, mais do que Fernando, nunca teve um adversário carismático. Perde assim mesmo. E para um político opaco que, nas pesquisas, ganha nota mais baixa do que a de Felipe.
Pode haver pior castigo para a soberba?

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