São Paulo, segunda-feira, 4 de março de 1996
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Planalto teme a desmoralização do BC no Senado

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O depoimento do presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, marcado para amanhã no Congresso, seguirá uma estratégia combinada com os aliados do governo: a de impedir que o BC saia desmoralizado da crise no sistema financeiro.
"A orientação é segurarmos a peteca. Não vamos deixar que desmoralizem o Banco Central", anunciou o senador Ney Suassuna (PMDB-PB).
Ele foi escolhido para comandar o depoimento na qualidade de presidente da comissão especial que analisa a MP (medida provisória) que criou o Proer -o programa de incentivo à fusão de bancos.
Suassuna disse que a estratégia foi combinada com o presidente Fernando Henrique Cardoso por meio dos líderes governistas.
Ao orientar que o BC seja "poupado", FHC teria como objetivo evitar uma crise maior no sistema financeiro.
"Se alguma pessoa tiver de ser responsabilizada, tudo bem, mas a instituição não pode ser atingida", reforçou Suassuna.
A execução da estratégia acertada com FHC prevê que Loyola passará muitas horas falando aos deputados e senadores que integram duas comissões especiais do Congresso encarregadas de debater medidas provisórias editadas para contornar a crise do sistema financeiro.
O depoimento, marcado para começar às 10h, não tem hora para terminar. A orientação do próprio presidente da República é de não deixar pergunta sem resposta.
Loyola terá de explicar, em detalhes, duas questões principais: 1) como o Banco Nacional teve arrombadas suas contas sem que o BC interviesse a tempo, já que até FHC havia sido informado; e 2) quanto exatamente o governo gastará com a parte ruim do banco, que não foi vendida ao Unibanco.
Até agora, o governo admite ter emprestado R$ 5,8 bilhões com recursos do Proer até janeiro.
Se as perguntas não forem respondidas por Loyola, prevê Ney Suassuna, o governo não terá como segurar no Congresso a proposta de instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o sistema financeiro.
"A insatisfação seria tão grande que a adesão à CPI aumentaria, e seria uma lástima para o país: com cinco meses de investigação, o sistema financeiro iria para o ralo", avalia Suassuna.

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