São Paulo, segunda-feira, 4 de março de 1996
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Chumbo grosso

VALDO CRUZ

Brasília - A bancada baiana, a mesma que protagonizou a marcha pelo Econômico, está na espreita. Mantém um silêncio perturbador -para o Palácio do Planalto, é claro- diante do vazamento da fraudes do Banco Nacional.
A estratégia dos baianos é a seguinte: aguardar as negociações em torno da venda do Econômico para o banco Excel. Caso recebam o sinal definitivo de que as portas do banco baiano vão reabrir, podem até ficar mudos.
O senador Antônio Carlos Magalhães, líder da bancada, está ansioso. Sabe que as conversas com o BC emperraram porque o Excel quer a participação do Econômico nos setores petroquímico e siderúrgico. O BC deseja ficar com esse naco para cobrir pelo menos parte do rombo que terá de arcar.
É uma pressão velada. E já foi comunicada ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Os baianos acreditam estar respaldados nessa nova empreitada, desta vez silenciosa.
Lembram pelos menos dois "detalhes" em seu favor. O governo FHC não adotou o regime de administração temporária no Econômico -uma intervenção que mantém as portas do banco abertas. Argumentou que o instrumento não podia ser aplicado a uma instituição privada.
Isso aconteceu em agosto. Depois, em novembro, para salvar o Nacional da quebradeira, o BC adotou o mesmo instrumento negado ao Econômico. E, dizem os baianos, o banco dos Magalhães Pinto, até onde eles sabem, era privado.
Segundo detalhe. O rombo do Econômico atingiu R$ 3,5 bilhões. Foi uma chiadeira geral. Dinheiro público sendo jogado num banco privado, recordam os baianos. Depois, o Nacional levou R$ 5,8 bilhões do BC. Ninguém reclamou, tudo em nome da saúde do sistema financeiro. Agora, com a descoberta das fraudes, o rombo pode ultrapassar R$ 10 bilhões.
O governo FHC que se prepare. Ou o Econômico reabre ou vem chumbo grosso por aí. E o contribuinte, indefeso, pagará uma conta cada vez mais alta.
*
Amigos palacianos e líderes governistas pressionam FHC por mudanças no BC. Alegam que o banco falhou ao não divulgar as fraudes e mandar punir os responsáveis. Tudo bem. Esquecem (?), porém, que o Palácio do Planalto sabia de tudo e participou das decisões. Vão pedir mudanças lá também?

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