São Paulo, quarta-feira, 6 de março de 1996
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CUT rompe com governo e deixa acordo da reforma

DENISE MADUEÑO
DANIEL BRAMATTI

DENISE MADUEÑO; DANIEL BRAMATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Vicentinho critica parecer, que, segundo ele, não foi negociado

A CUT (Central Única dos Trabalhadores) anunciou ontem, em Brasília, o rompimento do acordo com o governo sobre a reforma da Previdência Social.
A central disse ainda que estão prejudicados outros entendimentos com o Palácio do Planalto: reforma administrativa e programa para geração de empregos.
A entidade vai defender a derrubada do parecer do relator Euler Ribeiro (PMDB-AM), que será votado hoje na Câmara com apoio dos partidos governistas.
"Insistimos à exaustão no processo de negociação, até o último dia possível. O relatório final não atende ao acordo que discutimos com o governo", disse o presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho.
O sindicalista acusou o Executivo de falta de empenho na tarefa de mobilizar sua base em favor do cumprimento do acordo.
"A minha desconfiança é que o governo está fazendo corpo mole, porque poderia estar pressionando seus deputados. Não podemos ficar correndo atrás de deputados todos os dias", afirmou.
Segundo Vicentinho, entre os pontos do acordo não contemplados pelo relatório estão a recuperação do poder aquisitivo das atuais aposentadorias e o fim da previdência especial para juízes e parlamentares.
Outro artigo contestado pela CUT é o que trata da comprovação do tempo de contribuição ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) para efeito de aposentadoria.
A central exige que a simples apresentação da carteira de trabalho assinada seja suficiente para que o trabalhador comprove o tempo de contribuição.
Caberia ao Estado averiguar se o empregador recolheu efetivamente as contribuições.
Como o relatório já foi lido oficialmente em plenário, a única forma de alterá-lo seria por acordo de todos os líderes.
Os representantes dos partidos governistas se mostraram dispostos a atender à reivindicação da CUT sobre a comprovação do tempo de contribuição, mas os do PT e PDT não fizeram o mesmo.
Vicentinho, porém, disse que não foi a oposição quem emperrou o acordo: "Faltou disposição de verdade. Em nenhum momento os governistas nos apresentaram uma proposta nova de redação".
O presidente da CUT voltou a chamar de "privilégio vergonhoso" a instituição de uma aposentadoria especial para os parlamentares. "Eles (os deputados) não querem acabar com isso. Puderam mudar a lei para os outros, mas não tiveram autoridade moral para cortar seus próprios privilégios.".
Vicentinho disse que o governo ainda pode "corrigir os erros do relatório", antes da votação de hoje. A seguir, porém, admitiu que considera a hipótese remota. "Só se acontecer um milagre."
O rompimento do acordo em torno da Previdência pode acabar de vez com o diálogo da CUT com o governo, mesmo sobre outros temas. "Se o governo for cúmplice (do relator), será impossível avançar em outras discussões, como geração de empregos e reforma agrária", disse Vicentinho.
Perguntado se a discussão sobre a reforma administrativa também seria prejudicada, o sindicalista respondeu afirmativamente.

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