São Paulo, quarta-feira, 6 de março de 1996
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Subserviência

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Inacreditável a demonstração de governismo explícito que o Congresso Nacional se prepara para dar, se se confirmar a hipótese de rejeição de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre o sistema financeiro.
Ontem, informa a Sucursal de Brasília, até o PT admitia que o depoimento de Gustavo Loyola, presidente do BC (Banco Central), não criara o ambiente esperado pela oposição para completar o número de assinaturas necessário para a CPI. Faltavam apenas três assinaturas, no Senado, para que a CPI ganhasse vida.
O depoimento de Loyola foi, então, um êxito espantoso? Não. A rigor, pelo menos na sua primeira fase (escrevo antes da segunda parte, iniciada por volta de 18h), não disse rigorosamente nada que já não estivesse no noticiário em algum momento anterior.
E o noticiário dos momentos anteriores criara, ao menos no Senado, um tal ambiente de convulsão que o senador Pedro Simon (PMDB-RS) chegou a dizer à Folha que jamais vira crise tão grave em seus 66 anos de vida, 40 na atividade pública.
Pior: as informações de Loyola só deveriam ter contribuído para reforçar tal avaliação. Afinal, ele confirmou que o BC começou a tomar conhecimento dos problemas nos créditos do Nacional em julho/agosto.
Mas só em 5 de outubro, a partir de uma conversa de diretores do banco com o comando do BC, é que o instituto fiscalizador ficou sabendo que não se tratava de um problema de créditos não pagos, mas de uma gigantesca fraude.
Eram, na verdade, créditos inexistentes, fantasmas, usados para maquiar a contabilidade. Mecanismo utilizado durante 10 anos. Portanto, sob várias administrações do BC, sem que qualquer uma delas detectasse a fraude.
Se isso pôde acontecer com o Nacional, supondo que Loyola esteja dizendo a verdade, pode, portanto, ocorrer com qualquer outra instituição, diz o mais elementar sentido comum.
É exatamente a esse tipo de situação a que Simon se referia quando comentou a gravidade de crise. Se não é motivo para uma CPI, então é melhor cancelar esse instrumento das regras do Congresso.

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