São Paulo, quinta-feira, 7 de março de 1996
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Vicentinho ataca os defensores do IPC

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, chamou os deputados que são contra o fim da aposentadoria especial dos parlamentares de "marajás", "desgraçados" e "picaretas".
A CUT realizou ontem uma manifestação em Brasília contra o relatório do deputado Euler Ribeiro (PMDB-AM) sobre a Previdência.
Ao mesmo tempo em que atacou deputados, Vicentinho poupou o Palácio do Planalto de enfrentar possíveis distúrbios.
Apesar de cantar slogans como "De Fernando em Fernando, o país vai afundando", numa comparação entre os governos de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso, ele evitou que os manifestantes parassem em frente ao Planalto para protestar.
"Não vamos provocar nem aceitar provocação, vamos fazer uma manifestação pacífica", dizia Vicentinho todo o tempo. Em meados do ano passado, manifestantes tentaram invadir o Palácio do Planalto durante um protesto.
O ato reuniu ontem cerca de 1.500 pessoas, segundo a Polícia Militar. A estimativa dos organizadores foi de 4.000 presentes.
A passeata teve início na Esplanada dos Ministérios, continuou em frente ao Palácio do Planalto e chegou ao Congresso.
A CUT vinha negociando a reforma da Previdência desde janeiro, mas, na terça-feira, decidiu se posicionar contra o relatório de Euler Ribeiro, alegando que o deputado não cumpriu o acordo.
"Negociou-se, houve um entendimento, mas o relator Euler Ribeiro, achando que a gente não sabe ler, mudou o texto", disse Vicentinho.
Entre os principais pontos de atrito da CUT com Ribeiro, está a manutenção da aposentadoria especial dos parlamentares, por meio do IPC (Instituto de Previdência dos Congressistas).
"A manutenção da aposentadoria especial para deputados é imoral. Até parece que existe insalubridade no Congresso. Lá tem é muita mordomia", afirmou Vicentinho.
Ele não parou por aí. "Prestem atenção como vai votar cada um dos deputados. Dependendo do voto do desgraçado, ele nunca mais deve ser eleito", completou.
"Vamos combater o privilégio desses marajás, que querem mandar neste país, mas não têm dignidade. Esse país precisa desaparecer com os picaretas", finalizou.
União A manifestação de ontem foi o primeiro ato em que se uniram as alas moderadas e radicais da CUT desde o início das negociações em torno da Previdência.
"O resultado desse processo confirma que não há como confiar no governo e que não deveria ter havido nem deve haver mais negociação envolvendo a CUT", disse José Maria de Almeida, secretário de Organização da CUT.
"Não aceitar negociar é demonstrar medo e fraqueza de não enfrentar os poderosos", rebateu Vicentinho.
O próximo conflito entre os dois grupos acontecerá em torno da emenda da reforma administrativa, cuja votação na comissão especial da Câmara está prevista para acontecer até o fim do mês.
Vicentinho desmarcou o encontro que teria na sexta-feira com o relator da reforma administrativa, Moreira Franco (PMDB-RJ).
Mas deixou claro que pretende conversar num futuro próximo sobre o texto, que propõe o fim da estabilidade no emprego dos funcionários públicos.

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