São Paulo, sexta-feira, 8 de março de 1996
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PFL pede a presidente fim de ameaças a deputados

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO; VIVALDO DE SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL

A cúpula do PFL foi ontem ao Palácio do Planalto dar um conselho a Fernando Henrique para contornar a crise parlamentar. Presidente do partido, Jorge Bornhausen sugeriu que ele pare de ameaçar com retaliações o Congresso.
Anteontem, por intermédio de seu porta-voz, o presidente disse que os congressistas que votaram contra a reforma da Previdência iriam se arrepender.
Na avaliação dos pefelistas, o governo pode reverter o quadro se reformular sua estratégia: em vez de atacar os congressistas, atender melhor o chamado "baixo clero" da Câmara -os deputados de menor expressão, mas que decidem as votações.
FHC vai entrar pessoalmente no processo para reverter as defecções na base governista.
Ele deve conversar com governadores, especialmente dos Estados cujas bancadas votaram em massa contra a reforma, como a de Rondônia (todos os sete deputados).
Para caciques do PFL, o governo precisa ganhar tempo para fazer um diagnóstico detalhado da derrota e traçar uma nova estratégia. "É preciso analisar a razão de cada deputado (que votou contra)", diz o ministro da Previdência, Reinhold Stephanes.
Ao sugerir acalmar os ânimos e ganhar tempo, os pefelistas pretendem quebrar a inércia do Congresso, que hoje aponta para um aumento da insatisfação dos parlamentares e, portanto, para novas derrotas do governo.
O caminho indicado pelos pefelistas, entretanto, tem custo. Atender melhor o "baixo clero" não implica apenas que os ministros marquem mais audiências para ouvir os deputados.
Os parlamentares já não se contentam mais com isso: querem ver suas reivindicações atendidas, o que demanda gastos públicos ou novas nomeações.
'Enrolador'
Visto até há pouco tempo como um "sedutor" que ouve a todos e conquista até os adversários, Fernando Henrique passou a ser chamado pelos mesmos deputados de "enrolador": ouve, mas não atende nenhum pedido.
O outro preço da estratégia pefelista é o "entupimento" da pauta da Câmara. Enquanto a emenda da Previdência não for votada, nada mais pode entrar em votação.
O fim das hostilidades contra o Congresso não se refere apenas à Câmara. Alguns parlamentares avaliam que o próprio FHC deu o empurrão que faltava para a CPI dos Bancos quando disse que tinha que aguentar até marimbondos, numa referência aos "Marimbondos de Fogo" do presidente do Senado, José Sarney.
Há vários sarneyzistas na lista de senadores que subscreveram o requerimento pela CPI.
É por causa da disposição de Sarney de incomodar o governo e dos quase 50% de defecção da bancada do PMDB na Câmara que os pefelistas avaliam que esse deveria ser o principal alvo de Fernando Henrique no momento.

Colaborou Vivaldo de Sousa, da Sucursal de Brasília

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