São Paulo, sexta-feira, 8 de março de 1996
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Leia o discurso de FHC

Leia a íntegra do discurso feito por Fernando Henrique Cardoso:
Mais uma vez, neste ato simples, o governo quer significar a todo o país a importância, não que o governo empresta ao turismo, mas que ??? turismo possui em si mesmo.
É de espantar, mas é de espantar mesmo, que até pouco tempo se tenha encarado o turismo como se isso não fosse importante, uma atividade de lazer. É verdade que o turismo trata do lazer, mas só aqueles que não conhecem as peculiaridades do mundo contemporâneo é que imaginam que o lazer é algo sem importância. Pelo contrário, o lazer é crescentemente uma forma de integração. De integração da família, de integração das pessoas com o seu próprio país ou com outros países. E é também uma forma de integração cultural. É uma forma da consciência, de tomar consciência das questões ecológicas, por exemplo, da necessidade da prevenção do meio ambiente para que o turismo não seja predador, de expansão, portanto, de uma dimensão nova da sociedade contemporânea que é do respeito à natureza.
Mas é também uma forma que diz que tem a ver com algo mais fundamental para as sociedades, porque não há turismo sem que exista saneamento básico, não há turismo sem que exista segurança, segurança pública, não há turismo, portanto, sem que a sociedade ofereça aos seus filhos e àqueles que vêm visitá-los condições decentes de vida.
Um programa de turismo não é simplesmente um programa para fazer o Brasil ser conhecido lá fora, que é muito importante, aliás é mais do que isso, é um programa que permita afirmar com tranquilidade que o Brasil já é um país que possui condições para que possa ser visitado, sem que das visitas resulte um mal-estar posterior. E que o turista, ao ser bem tratado, volte ao país. E que o turista interno tem importância crescente para aqueles que cuidam dessa questão. É, portanto, uma atividade que requer do governo uma atenção especial.
Vejo o que manifestou há pouco a ministra Dorothea e pelas assinaturas o ministro Lôbo e o ministro Lampreia. É uma maneira também de tornar mais eficiente a nossa oferta de serviços, é uma maneira de valorizar os recursos de que dispomos na nossa infra-estrutura, fazendo entendimentos com as linhas aéreas, e é um investimento produtivo direto.
Este programa, mencionado pela ministra, do Prodetur, o esforço com o Nordeste, o esforço que estamos fazendo para que o próprio governo federal dê a contrapartida àquelas obras que são necessárias, porque nós sabemos das dificuldades das prefeituras e dos Estados de darem a contrapartida. Estamos entabulando negociações sérias com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, para que ele também aceite isso e aceite a contrapartida, para que possamos alavancar muitos outros investimentos na área do turismo. Há recursos.
É de espantar outra vez que tenha ficado paralisado cerca de R$ 1 bilhão, paralisado por falta de iniciativas que permitam, como nós agora temos, mecanismos de dar contrapartida. Eu tenho repetido tantas vezes que o Brasil não é um país subdesenvolvido, (...) uma sociedade injusta. E há que dizer também que uma sociedade foi muito malcuidada pelos seu governantes, não individualmente cada uma, mas pelo sistema de governar, porque não permitia isso que hoje nós fazemos com mais afinco, que é a comunicação, fazer com que o governo federal fale com o governo estadual e com o governo municipal. E que as agências do governo federal não se encastelem em Brasília e pensem que sozinhas vão fazer aquilo que só o prefeito é capaz de fazer.
Pelo contrário. Temos que ser humildes em entender que só havendo esse entrosamento efetivo entre os vários níveis de governo é que as questões andam. Isso custa trabalho, isso custa incompreensão. Isso requer, da parte do governo federal, uma atitude de humildade e uma atitude também de amplitude, se eu posso dizer assim. Nunca perguntei se o prefeito é desse ou daquele partido, nem a ministra, nem o governador, aqui está a prova do governador Buaiz, nunca perguntei de que partido é, se fazia oposição a mim ou não. Eu quero saber se trabalha pelo Brasil ou não. E, se trabalhar pelo Brasil, tem o meu apoio.
E eu gostaria também que aqueles que são responsáveis por decisões nacionais cruciais tivessem a mesma visão que nós temos e que dessem um voto generoso no momento em que o Brasil precisa de mudança, reforma para ir para a frente, e que não pensem que vão ter voto não fazendo aquilo que é necessário. Se eu hoje sou presidente da República aqui, é porque eu pedi, não muitas vezes, pedi que dissessem não ao aumento irresponsável de salário e também, sou obrigado a dizer, continuarei assim até o fim, dizendo não ao que não for possível. E tendo certeza de que quando (...) um não com força, vai dizer um sim amanhã, e o sim virá.
Aqueles que disserem sim amanhã, esses, sim, se beneficiarão com o apoio do povo, porque o povo não quer mais ser enganado e cansou de eleitoralismo, cansou daqueles que se amedrontam diante do tamanho dos problemas. Não, vamos enfrentá-los com generosidade, com o coração aberto, sem perseguições, é assim que nós estamos fazendo. E o turismo é a melhor prova disso, porque aqui é mais fácil congraçar, é um tema que atrai mais. É um tema que traz a beleza a uma primeira plana, porque, se não houver beleza para mostrar, não há turismo.
E nós temos muita beleza. Esse fato de nós termos mil e não sei quantos, 1.600 municípios capazes de atrair turistas é extraordinário, é um fato poderoso. E eu olho, aqui, para o governador do Piauí. E não vou me esquecer, lá, de Delta do Parnaíba e muito menos de Itu. E, se eu esquecer, meu Deus do céu... o que ele disse aqui, que não pode falar em dois minutos. Também, quando ele critica, não é em dois minutos, tem aquela força ituana, não é verdade?
Mas um país que tem tudo isso, que tem tanta potencialidade e que, hoje, conseguiu ter um espírito renovado, um espírito aberto, um espírito confiante, eu tenho certeza de que aqueles que estão trabalhando no turismo vão se sentir recompensados. E não nos esqueçamos nunca que, efetivamente, o que está sendo feito é muito pouco ainda, diante do muito que nós poderemos fazer. E aqui eu sei que no Congresso nós temos o projeto do deputado Medina, que vai ajudar. E é preciso que haja um apoio para esse projeto.
Há muitas outras coisas a serem feitas, que serão feitas. Eu tenho certeza de que tudo isso dará certo, porque este país não tem como não dar certo mais. E por uma só razão: porque o povo já aprendeu. O povo já sabe separar o joio do trigo. O povo já percebe quem está agindo de boa-fé. O povo já sabe que, quando a gente se impõe mesmo, com o coração, que é o que vocês estão fazendo, e com competência, as coisas vão acontecer.
E eu tenho a absoluta confiança nesse novo espírito do povo brasileiro, até porque o povo está sentindo. Nesse mês de fevereiro, nós tivemos a inflação de 0,40%. Quem se lembra disso, dos que estão aqui? Talvez, eu e o Montoro. Mais ninguém. 0,40%, há muito tempo que nós não tínhamos coisa semelhante. Por que nós conseguimos isso? Porque o governo fez o que tinha que fazer, porque o governo enfrentou as dificuldades, porque o governo foi capaz de propor as reformas. E vai insistir nelas, porque, se não insistir nelas, o 0,40% vira 40% ao mês, como foi no passado, porque havia aquele espírito fácil de ceder ao primeiro pelo demagógico.
Não. Não é esse o caminho do Brasil novo. O caminho do Brasil novo é o caminho da confiança na competência e na clareza. É preciso argumentar. É preciso mostrar. Mostrando, argumentando, nós conseguiremos e com maior tranquilidade, com muita tranquilidade, porque o país sabe que não há razões para intranquilidade. O governo também sabe.
E eu acho que, com muita persistência, tranquilidade, com um espírito construtivo -que é o de vocês, tenho certeza disso-, esse turismo vai ser capaz de continuar mostrando, cada vez mais, pelo mundo afora -e aqui dentro, também, porque o turismo interno é muito importante-, mostrando o valor dessa atividade. Valor, porque gera emprego, além do mais. E poucas atividades geram emprego como o turismo.
Então, nós vamos apoiar. Vamos continuar apoiando muito. E eu até, pessoalmente, como viajo, e viajo bastante, e vou continuar viajando, porque isso é importante para o Brasil -ainda agora, vou ao Japão, e isso chama a atenção para o Brasil-, eu, quem sabe, possa ajudá-los na propaganda do Brasil.
Muito obrigado a vocês.

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