São Paulo, sexta-feira, 8 de março de 1996
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Para FHC, CPI dos bancos é 'labareda'

DA SUCURSAL DO RIO; DA REPORTAGEM LOCAL

Reportagem Local
O presidente Fernando Henrique Cardoso comparou ontem a CPI para o sistema financeiro a uma "labareda" (sem citar diretamente a comissão) e sugeriu que o Senado terá "juízo" na condução das investigações sobre fraudes ao receber 19 senadores do Nordeste.
"Não nos deixemos perturbar por assuntos que são menores e que de repente parecem que são labareda. Essa labareda, essa sim pode ser perigosa", disse.
Segundo ele, "se nós tivermos o juízo que temos, com a capacidade de discernir o interesse imediato, o interesse do país, eu acredito que todos tenhamos isso, aí tenho certeza que (ganha) não só o Brasil, mas especialmente o Nordeste".
FHC afirmou aos senadores que o Brasil está prestes a dar um salto qualitativo em seu desenvolvimento e que a renda per capita aproxima-se de US$ 4.000.
Os 19 senadores do Nordeste foram ao Planalto para pedir mais recursos federais à região.
FHC não deu nenhuma garantia de aumento de verbas e defendeu a descentralização de iniciativas para o desenvolvimento regional.
Irreversível
É praticamente irreversível a instalação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre o sistema financeiro.
O presidente do Senado, José Sarney, defende a tese de que uma regra não-escrita da Casa determina que, se os partidos indicarem a maioria absoluta (50% mais um) dos membros de uma CPI, ela tem que ser instalada.
Para a CPI dos bancos, a maioria absoluta são sete senadores, já que a Comissão tem 13 membros.
O líder do PMDB, no Senado, Jáder Barbalho (PA), já avisou, antes de viajar para Alemanha, que o partido indicará os quatro integrantes a que tem direito.
PT e PDT, partidos de oposição, entram com um cada. A soma dá seis e fica, portanto, faltando só um para a maioria absoluta.
O sétimo virá do PPB, pois a Folha apurou que o partido indicará o seu representante tão logo receba ofício de Sarney com a solicitação.
Embora pertença à base governista, o PPB acenou com o apoio à instalação da CPI depois de um telefonema do prefeito paulistano Paulo Maluf, seu principal líder, para o líder no Senado, Epitácio Cafeteira (MA).
"Eu não sou dono do pedaço", disse Cafeteira. "Se o PPB for o voto de minerva, a CPI vai sair."
Pela manhã, em café da manhã no Palácio da Alvorada, entre FHC e lideranças governistas, traçou-se a estratégia de os partidos do governo não indicarem representantes, o que congelaria a CPI.
Como o governo, em tese, controla a maioria absoluta da CPI, poderia bloqueá-la por meio desse artifício (além dos quatro do PMDB e de um do PPB, os governistas ainda têm três representantes a serem indicados pelo PFL, dois pelo PSDB e um pelo PTB).
Mas a estratégia começou a ruir logo em seguida, quando Jáder Barbalho anunciou que o PMDB faria as indicações. E caiu de vez com a decisão do PPB.
Em todo o caso, o presidente nacional do PPB, senador Esperidião Amin (SC), acha que o governo ainda pode evitar a CPI.
"Ou ele mostra serviço ou a CPI é inevitável", diz Amin, sem saber dizer, no entanto, o que seria o governo "mostrar serviço".
Tudo o que o governo tem garantido é o adiamento da instalação da CPI pelo menos até 18. Barbalho já concordou em adiar as indicações.
Nesse período, Barbalho fará companhia aos líderes do governo e do PSDB e ao presidente do PPB em uma viagem à Alemanha, convidados pela fundação Konrad Adenauer, instituto de estudos da Democracia Cristã alemã.

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