São Paulo, sexta-feira, 8 de março de 1996 |
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Exposição comemora o Dia da Mulher
KATIA CANTON
O maior deles ecoa na frase bombástica da pós-feminista norte-americana Camille Paglia: "Não há Picassos mulheres", usada para explicar as diferenças biológicas que fazem com que o homem seja mais obsessivo do que a mulher. Como, para ela, obsessão é condição fundamental para a genialidade, cabe à mulher, um destino de sucessos artísticos medianos. Na contramão dessa teoria pagliana está a mostra Mulheres no Acervo do MAC, com curadoria de Daisy Peccinini. A coletiva reúne 95 obras de mulheres, divididas em áreas como fotografia, gravuras, pintura e relevo, desenho e tridimensional. A apresentação das artistas segue uma ordem cronológica, organizada pela produção entre os anos 30 e os 90. Conceitualmente, a mostra se estrutura como um olhar na coleção do museu em busca das diferentes expressões femininas, em meios específicos. "Mesmo numa coleção do século XX, só um terço do acervo é composto por obras de mulheres. Mas a qualidade das obras é excepcional", diz Peccinini. Os meios escolhidos pela curadoria perseguem essa qualidade. A curadora lembra que o processo da gravura, particularmente em metal, é apelidada pelos artistas de "cozinha", terreno ancestralmente feminino. Aqui as obras são assinadas por Maria Bonomi, Renina Katz, Anabela Geiger, Ester Grispum e outras. Há ainda desenhos de Djanira e Mira Schendel; pinturas e relevos de Tarsila do Amaral, Josely Carvalho, Leda Catunda, Monica Nador, Tomie Ohtake, Maria Tomaseli, Betty Calache, Carmela Gross; e obras tridimensionais de Jac Leiner, Amélia Toledo, Ana Maria Maiolino, Lia Mena Barreto, Anésia Pacheco Chaves, Norma Grimberg, Yole de Freitas e Barbara Hepworth. Se a alta qualidade das artistas expostas nessa mostra provam que a mulher faz um carimbo fundamental, sobretudo na história da arte brasileira, resta questionar a validade de exposições com temáticas de gênero. A mostra do MAC espelha uma tendência internacional desde o surgimento, nos EUA, do chamado "politicamente correto", coroado no final de 93 com a criação, em Washington do National Women's Museum, um museu que só exibe arte de mulheres. No final de abril, aliás, a artista norte-americana Marry Dritschel chefia um grupo do museu de Washington para uma visita guiada à exposição do MAC. Mulheres no Acervo abre no MAC - Ibirapuera no dia 8 de março às 18 horas e fica à mostra até o dia 19 de maio. Eventos paralelos No mesmo dia, às 17 horas, acontece, também no Museu de Arte Contemporânea, a mesa-redonda "A Realidade da Mulher na Virada do Milênio". Participam do debate a vice-reitora da USP, Myriam Kraslichik; a diretora do MAC, Lisbeth Rebollo Gonçalves; as artistas Maria Bonomi e Anna Barros; a crítica de arte Katia Canton; a curadora da Alemanha para a 23ª Bienal de São Paulo, Karen Stempel; e a coordenadora do Núcleo de Estudos de Gênero sobre a Mulher, Dulcilia Buitoni. Texto Anterior: Paul Klee terá 60 obras na Bienal Próximo Texto: Especialista americana faz a elegia da obra de Helio Oiticica Índice |
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