São Paulo, sexta-feira, 8 de março de 1996
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Cantora brilha em disco cheio de estrelas

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

As grandes gravadoras a haviam relegado ao ostracismo, como costumam fazer com os da "velha guarda". Agora, Angela Maria se beneficia de tempos de súbita revalorização dos pioneiros da MPB e prova que, após cinco décadas, sua voz continua soberana.
Nem precisava de convidados, já que ela brilha mais que qualquer um deles em interpretações vocais kitsch perfeitas. Nenhum vai além de mera escada para o brilho da estrela -à possível exceção de Nana Caymmi, que ameaça roubar a cena de "Estava Escrito". Ao seu redor, misturam-se alhos e bugalhos.
Roberto Carlos abre o disco confrontando a voz brasileira antiga e a moderna, pós-João Gilberto (como acontece com Chico, em "Gente Humilde", e Caetano, em "Noite Chuvosa"). O duelo só faz mostrar a interdependência entre os dois modelos.
As cantoras, talvez inibidas pela influência de Angela, decepcionam. Maria Bethânia mantém-se à distância, furtando-se de contracenar com a professora em "Orgulho". Gal, que já cantara sozinha em 76 "Nem Eu", de Caymmi, mostra no dueto que o ganho de técnica de lá para cá parece ter custado substancial perda de emoção.
Nessa linha se inscreve a facção popularesca -apreciada por Angela, respeitemos-, que força garganta abaixo a gritaria de Fagner, a sub-bossa de Emílio Santiago, o expressionismo barato de Fafá de Belém e a baixaria radiofônica de Zezé di Camargo e Luciano.
No mesmo campo, há uma surpresa: o ultrabrega Agnaldo Timóteo secunda Angela numa versão divertida do magnífico "Tango para Teresa", de Jair Amorim.
A interação se estabelece em faixas bem-escolhidas como "Vida de Bailarina", com um Djavan incomumente sofisticado, ou "Balada Triste", em que Milton Nascimento coloca seus malabarismos vocais , às vezes excessivos, a serviço dos de Angela, insuperáveis.
Mas o ápice de malabarismo é mesmo a catártica "Babalu". É o golpe de misericórdia da dona da festa, em sua melhor interpretação no disco, que nem o blues de Nana Caymmi consegue turvar.
(PAS)

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