São Paulo, sexta-feira, 8 de março de 1996
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Cadê Beto e Sávio?

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O presidente Fernando Henrique Cardoso foi posto, anteontem, na mesma situação em que se encontrava Zagallo antes que Beto e Sávio empatassem o jogo contra a Argentina.
Zagallo nunca perdeu para seleções sul-americanas, na sua longa carreira como técnico da seleção brasileira. FHC nunca perdeu votações no Congresso, na sua curta carreira como presidente.
O problema, para FHC, é que sua seleção não tem nem Beto nem Sávio, se usados como sinônimos de especialistas no meio-campo e em fazer gols, artes que o jogo político-parlamentar também exige. À falta deles, o governo perdeu a invencibilidade que Zagallo preservou.
Esse tipo de comparação parecia ontem consolidar-se, tanto no Congresso como entre lideranças governistas. É verdade que a primeira reação do governo foi buscar um culpado externo, no caso o ex-presidente José Sarney.
Vamos admitir que Sarney tenha de fato contribuído para que se obtivesse o número necessário de assinaturas para que eventualmente se instale a CPI dos bancos.
É, mesmo assim, só o primeiro gol contra o governo. E o segundo, o da Previdência? Foi na Câmara e é preciso excesso de imaginação para atribuir a Sarney também o poder de influir pesadamente nessa Casa.
No fundo, crucificar Sarney, nesse caso, parece o caminho clássico de achar que o demônio são sempre os outros.
O demônio, voltando ao futebol, é que o governo falhou no meio-campo, mais conhecido, no Congresso, como articulação política. Sem meio-campo, não há Sávio que faça gols.
Essa avaliação era, ontem, bastante mais consensual, no próprio governo, ainda que apenas para consumo interno, do que a tese do "demônio Sarney".
Até porque o ex-presidente deixou com seus amigos, antes de viajar para Portugal, uma frase eloquente e realista: "Eu não sou líder do governo. Sou até hostilizado por ele".
Se não é líder, não podia mesmo ser melhor do que o Dida foi no segundo gol argentino.

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