São Paulo, sexta-feira, 8 de março de 1996
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A soberba do Planalto

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Entre as centenas de análises sobre as derrotas do governo anteontem, uma é particularmente ruim para FHC. A seguir, um resumo:
1) A discussão sobre a instalação ou não da CPI dos bancos vai consumir, pelo menos, o restante do mês;
2) Enquanto o assunto for CPI dos bancos, o Congresso pára;
3) Se a CPI sair, será o único assunto deste ano;
4) Mesmo sem CPI, o governo não conseguirá retomar o pé no Congresso e 96 está liquidado para as reformas constitucionais pendentes (Previdência, administrativa e tributária), pois a partir de junho os congressistas só vão se ocupar das eleições municipais.
Pior de tudo para FHC: ele pouco pode fazer agora para reverter o quadro criado pela inoperância política do Palácio do Planalto.
A responsabilidade pela crise entre Congresso e Planalto é totalmente de FHC. Não cola a desculpa de que parlamentares celerados só votam de acordo com interesses paroquiais.
É claro que muitos deputados e senadores são criaturas desprezíveis, cuja inteligência se equivale à dos macacos dos comerciais de TV. Mas, e daí? O presidente sempre soube disso.
É deplorável a atitude dos parlamentares que votaram, por interesses pessoais, contra a reforma da Previdência e assinaram o requerimento a favor da CPI dos bancos. Mas, e daí? São essas pessoas que votam, não FHC.
É um truísmo que o Congresso seja mal representado por causa da estrutura política do país. E não consta que FHC tenha se esforçado por uma reforma do sistema eleitoral -a não ser para conseguir a sua própria reeleição.
Anteontem, antes da votação da Previdência, nenhum integrante do governo se deu ao trabalho de fazer um mapa preliminar de votação. Davam de barato que viria mais uma vitória.
Deputados e senadores reclamam da soberba com que são tratados pelos assessores do presidente.
Uma frase singela de um senador resume o que acontece agora: "O governo faz maldade com a gente e acha que vai ficar de graça".

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