São Paulo, sábado, 9 de março de 1996
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Mulheres invadem fazenda em protesto

DA REPORTAGEM LOCAL E DA AGÊNCIA FOLHA

Invasão de uma fazenda em São Paulo, feita só por mulheres sem-terra no Pontal do Paranapanema (extremo oeste de São Paulo), e uma passeata no centro da capital paulista marcaram ontem, Dia Internacional da Mulher, os protestos contra a prisão de Diolinda Alves de Souza.
A líder dos sem-terra no Pontal está presa com outros três dirigentes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na região, desde 25 de janeiro.
Diolinda, Laércio Barbosa, Felinto Procópio e Claudemir Marques estão detidos sob a acusação de formação de quadrilha e conturbação da ordem pública.
Outros dois líderes, José Rainha Jr. e Márcio Barreto, também com prisão preventiva decretada, estão foragidos desde então.
A invasão da fazenda São Domingos, em Sandovalina (a 640 km a oeste de São Paulo), aconteceu às 8h. Feita por 150 mulheres, acompanhadas por seus filhos, a invasão foi o ponto alto do protesto contra a prisão de Diolinda.
As mulheres e as crianças chegaram a pé e em caminhões e tratores. Essa foi a quinta invasão da fazenda, de 2.016 hectares, pelos sem-terra. A invasão foi pacífica.
Segundo Delwek Matheus, 29, "a ocupação pretende mostrar que as mulheres também estão na luta pela reforma agrária". A participação das crianças na invasão foi, segundo ele, protesto contra a falta de política educacional nos acampamentos e assentamentos.
Em Álvares Machado (590 km a oeste de São Paulo), 150 trabalhadores sem-terra, segundo a polícia, participaram de ato em frente à cadeia onde Diolinda está presa.
Os líderes do MST presos receberam ontem a visita da atriz Lucélia Santos e dos deputados federais do PT Jaques Wagner e Sandra Starling e da deputada estadual Maria Lúcia Prandi, também do PT.
Ontem à tarde, no centro de São Paulo, houve passeata de mulheres em defesa de Diolinda, do Teatro Municipal ao Tribunal de Justiça de São Paulo, que ainda não julgou três habeas corpus impetrados em defesa dos presos.
Cerca de 15 entidades de direitos humanos de São Paulo anunciaram ontem, em carta aberta à população, que pretendem denunciar no exterior as prisões, consideradas arbitrárias e injustas em um país que se diz democrático.
Raul do Valle, presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), criticou as prisões durante debate no Centro Acadêmico 11 de Agosto, na Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo). "Considero uma agressão a uma luta social legítima e um ato que não ajuda o debate da reforma agrária."

LEIA MAIS sobre o Dia Internacional da Mulher à pág. 3-5.

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