São Paulo, sábado, 9 de março de 1996
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Presidente da Funai pede demissão

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), o historiador Márcio Santilli, pediu demissão. Ele estava no cargo há seis meses. Em seu lugar, assume interinamente Jorge Pozzobon, atual chefe de gabiente.
"Faltou apoio interno, faltou vitalidade suficiente dos funcionários para se reestruturar o órgão. Houve reação corporativa forte e boicote às iniciativas e crises forjadas", disse Santilli à Folha para justificar sua saída.
Como exemplo de crise forjada, citou a agressão que sofreu na sede da Funai no dia 12 de fevereiro.
Ele foi mantido como refém dos xavantes durante 50 minutos na garagem da sede do órgão por não aceitar pressões dos líderes indígenas para receber ajuda de custo em viagens. Foi levado à força para a garagem do prédio e humilhado -um cacique deu um tapa em Santilli dizendo que ele não prestava para o cargo.
Santilli deixa o cargo a 15 dias do embarque do ministro Nelson Jobim (Justiça) para viagem à Europa, onde vai explicar em quatro países o decreto 1.775, que abre a brecha, na prática, para a revisão das demarcações das áreas indígenas.
A demissão de Santilli não tem relação direta com as críticas ao novo decreto, mas torna difícil a posição do governo para defender o dispositivo junto às entidades ligadas à questão.
Santilli entregou a carta de demissão anteontem ao ministro Jobim, que tentou convencê-lo a ficar. É o segundo presidente do órgão no governo Fernando Henrique Cardoso. Antes de Santilli, era dirigido por Dinarte Madeiro.
A demissão deve ser publicada na edição de segunda-feira do "Diário Oficial". Nem o ministério nem a Funai explicaram oficialmente o motivo da demissão. A Folha apurou que Santilli deixou o cargo por não se sentir forte o suficiente para enfrentar os ex-funcionários do órgão que, mesmo fora da Funai, controlam alguns caciques e negócios como a exploração de madeira e garimpos.
O ex-presidente tentou acabar com as viagens e privilégios dos caciques, que sempre foram tratados de forma paternalista em Brasília.
Segundo investigação da PF (Polícia Federal), a ocupação da Funai no dia 12 de fevereiro foi organizada por ex-funcionários que controlam os xavantes.
Em Redenção, no Pará, Santilli trocou toda a direção da Funai e teve de arcar com uma dívida de R$ 1,140 milhão que os funcionários tinham junto ao comércio local.
Santilli também vinha sofrendo pressões das ONGs (Organizações Não-governamentais) contra o novo decreto das demarcações.

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