São Paulo, sábado, 9 de março de 1996
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PE investiga morte de 4 em hemodiálise

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

A Secretaria de Saúde de Pernambuco investiga a morte de quatro pessoas ocorrida durante tratamento de hemodiálise no Instituto de Doenças Renais de Caruaru (130 km a oeste de Recife-PE).
Os pacientes morreram supostamente em consequência de intoxicação por excesso de cloro na água, usada durante o tratamento de filtragem do sangue. A presença excessiva do produto teria saturado o sistema e provocado o acidente.
As mortes ocorreram entre os dias 21 de fevereiro e 5 de março, mas só foram confirmadas oficialmente ontem. Outras quatro pessoas, que se submeteram ao mesmo tratamento no período, estão hospitalizadas.
Segundo a diretora de Vigilância Sanitária do Estado, Cristiane Holmes, todas as vítimas apresentaram sintomas semelhantes. "Elas tiveram crises convulsivas, desorientação e hemorragia digestiva."
Apesar disso, declarou, o hospital não comunicou o problema. "Soubemos pela imprensa", disse Holmes.
A primeira morte ocorreu no dia 21 de fevereiro. Arnaldo Luiz Gomes, 38, passou mal durante a hemodiálise e morreu seis horas depois. No dia 29, outros dois pacientes, Abílio Joaquim da Silva, 71, e Maria Cândida Nunes, 51, também passaram mal e morreram. A última vítima foi Angelita Santana de Araújo, 38, morta no último dia 5 de março.
O Instituto de Doenças Renais nega culpa no episódio e diz que recebe a água utilizada na hemodiálise da Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento).
A empresa, ligado ao governo do Estado, também diz que não tem culpa no caso. A água fornecida ao hospital, diz, não tem cloro e é entregue em carro-pipa.
Holmes acredita que será muito "difícil" esclarecer o que realmente ocorreu no Instituto de Doenças Renais, que é particular mas conveniado ao SUS (Sistema Único de Saúde).
Segundo ela, a equipe que inspecionou o local não conseguiu colher amostras da água utilizada pelo estabelecimento no período em que ocorreram as mortes.
O hospital, porém, afirmou a diretora de Vigilância Sanitária, não entregou os resultados das análises químicas que obrigatoriamente teriam de ser feitas pela instituição.
A interdição do local, que existe há dez anos, e atende 145 pacientes por mês, não está descartada, disse Holmes.
Segundo ela, tudo depende do resultado as investigações e de uma solução para o atendimento dos doentes renais da região. "A prioridade é manter o tratamento dessas pessoas", afirmou.
Até o final da tarde de ontem, nenhuma denúncia contra o hospital ou a Compesa havia sido feita à polícia.

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