São Paulo, sábado, 9 de março de 1996
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Prada mantém retrô-chic; Gucci traz luxo usável

ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MILÃO

Tom Ford, depois de ter lançado os mais famosos mod e trash-hippie-chic das duas últimas estações, com o estardalhaço que já conhecemos, fez o melhor 70/90.
Com notável habilidade, trouxe o produto Gucci para o luxo usável pelas mais modernas e as nem tanto. Após ter beirado o invendável para a clientela tradicional -mas fazendo correr rios de tinta pelo mundo- conseguiu o equilíbrio. Sua sedutora coleção pode vestir todas as luxuosas. Opulência cool.
A tendência militar interpretada à la 70 é a nova epidemia em Milão. Tom Ford fez a melhor, a mais estilizada, já que é coisa perigosa e pesada. Em vez de usar o verde militar, elegeu o marinho, o marrom bem escuro, o camelo e o branco. A mesma cor usada em vários tons.
É tempo de revival unissex para Gucci. Eles e elas com o mesmo make-up e cabelos, mesma roupa. A forma é estreita e alongada, os ombros mais definidos e estruturados. Mantôs mais longos e os blazers mais curtos.
A cintura está marcada mais alta, pela construção ou por cintos. A pele é transparente, com lábios falsamente naturais, pálpebras douradas, sombra marrom pesada nos cantos externos dos olhos, como nas fotos de Guy Bourdin.
Os sapatos têm salto 12cm para scarpins e botas. Saltos mais estreitos e plataformas 3cm, bico alongado e quadrado na ponta.
Cintos: maravilhosos. A nova fivela é uma placa. Usada jogada para o lado, como quem não quer nada. O mais largo tem oito centímetros e o mais fino, um.
A nova onda é dourado. Malha de metal para cintos e pulseiras, fivelas, anel de dedinho, pingente G com cordão de couro.
Noite. Espetaculares vestidos em jérsei-crepe duplo, todos brancos. Lembram o estilo clean do americano Halston, do início dos anos 80. Mas o tempero é 90.
Com uma certa arrogância sensual, decotes frente-e-costas redondos ou em gota, por onde se vêem sobre a pele cintos e fivelas em ouro cintilante.
Tom Ford mostrou poucas formas, mas muitos materiais. Os tecidos mais fechados são tipo "twill", risca-de-giz, cashemere, jérsei, tafetá iridescente.
Prada, a marca que na estação passada lançou o chamado banal-chic, ou bom gosto/mau gosto, continua no mesmo ousado caminho. Desta vez a inspiração é menos brechó-chic e mais histórica. Também fez uma referência a YSL na primeira entrada, com os cabans (casaco de forma mais ampla e retangular) e as calças quase retas mais amplas na boca.
As principais cores de Prada são o marinho e cinza antracite. A geometria nos cortes, formas e estampas é quase obsessão. Grandes losangos no jacquard e desenhos, além de enormes xadrezes são mais uma vez resgate da pintora Sonia Delaunay, dos anos 20 e 30.
A silhueta é estreita e longa, saias sempre bem abaixo do joelho, cós abaixo da cintura, despencados.
No geral, o look é bem retrô. Até demais. Fica com uma cara de início dos anos 70 que, por sua vez, eram inspiradas nos anos 30. Bastante rebuscado e intelectualizado.
Entretanto, o que prevaleceu foi o espírito sportswear ou a combinação do guarda-roupa com pequenas peças (camisas, saias, calças, t-shirts, casacos, mantôs) separadas, nada combinadinho.

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