São Paulo, sábado, 9 de março de 1996
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Fazer a reforma certa

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A rejeição da emenda da Previdência talvez possa ser um caso de mal que vem para bem, se o governo decidir governar com grandeza e não com a mentalidade de mero contador (sem menosprezo aos contadores, mas cada um na sua).
Há consenso em que o modelo atual é insatisfatório, para dizer o mínimo. O que pretendia o projeto do governo? Apenas evitar o que dizia ser a iminente falência de um sistema que todos admitem ser precário.
É pouco, pouquíssimo, para quem, como FHC, já anunciou a intenção de "refundar a República".
Pior: talvez nem seja verdade que a falência do sistema seja tão iminente assim.
Há várias contas a esse respeito, mas o espaço só me permite apresentar um dado, de estudo feito pelo Sindicato dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias de São Paulo.
Mostra que o governo projetou, para prever a falência, um aumento irreal dos benefícios previdenciários. Eles de fato cresceram 5% entre 91 e 92, mas porque nesse período ocorreu uma anormal expansão, como consequência da regulamentação dos direitos estabelecidos pela Constituição de 88.
O crescimento normal, sempre segundo o estudo, deve oscilar em torno de 2,5% anual, a metade do projetado pelo governo. Logo, o desastre pode até vir, mas não tão cedo.
Se esses números estão corretos (e há muitos outros que apontam na mesma direção), não há tanta pressa em reformar-se a Previdência e, portanto, há espaço para que se tente fazer algo mais decoroso.
O país já perdeu 14 meses discutindo uma reforma insuficiente, quando, nesse prazo, se poderia perfeitamente criar consensos em torno de uma reforma digna desse nome.
Uma reforma que estabelecesse que tipo de Seguridade Social (e não só Previdência) a sociedade está disposta a financiar, quanto custaria, de onde viria o dinheiro e em que prazo se poderia implementá-l

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