São Paulo, sábado, 9 de março de 1996
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Ação política do cristão

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
As comunidades católicas, nestas semanas, atendendo à convocação da Campanha da Fraternidade, estão se aplicando a refletir sobre o tema da cidadania, à luz do Evangelho.
A campanha, que se realiza no tempo da Quaresma, pretende suscitar entre os católicos a melhor compreensão da política e do dever de cada um cooperar para a promoção do bem comum, isto é, de assegurar condições dignas de vida para todos.
O ponto central da campanha, que implica sempre uma atitude de conversão interior, é de perceber a abrangência do mandamento da caridade, que vai além de gestos individuais, para um esforço conjunto que transforme a sociedade, tornando-a justa, solidária e fraterna, sinal do reino de Deus entre nós. O fruto das reflexões das comunidades têm-se expressado em três dimensões que se completam.
A primeira é a de compreender a importância do exercício da cidadania pelo voto consciente e livre. Isso supõe um trabalho sério de conhecimento dos candidatos e das propostas dos partidos, superando a omissão pelo esforço de escolher, com discernimento, o que mais convém para o bem comum.
A segunda consideração é igualmente importante. Trata-se de acompanhar e apoiar o desempenho dos que exercem as funções executivas, legislativas e judiciárias. Especial atenção deverão merecer os trabalhos da elaboração de leis por causa dos princípios e valores morais implicados.
Daí a necessidade de interesse maior e permanente das comunidades, não só a fim de manter uma atitude de vigilância quanto ao reto exercício político dos governantes, mas para assumir com responsabilidade a efetiva cooperação em vista do bem comum.
A terceira dimensão para o empenho político das comunidades refere-se à organização de ações concretas de serviço ao próximo na linha da solidariedade. Aqui se abre um amplo leque de iniciativas que permite a participação crescente dos membros da comunidade.
Assim, além da atuação nos serviços promovidos pelo governo, a própria sociedade, incluindo a Igreja, cria e promove obras para atender às várias necessidades do povo, como expressão da caridade evangélica e do compromisso político da solidariedade.
Tem havido uma revalorização das organizações não-governamentais e da sua contribuição indispensável para o bem comum.
Podemos, então, compreender, neste tempo de Quaresma, o dever de revermos a fidelidade à nossa missão evangelizadora, que abrange o crescimento na fé e o culto divino, a formação da consciência e a ação transformadora da sociedade.
Já é tempo de mais cristãos competentes e bem-intencionados se apresentarem como candidatos para melhor servir o povo, com apoio de sua comunidade. Mas, para todos, aqui fica, no entanto, uma sugestão concreta.
É a de aproveitarem as semanas finais desta campanha para, diante de Deus, alargarem o horizonte de sua caridade e fazerem uma revisão dos trabalhos promocionais, especialmente em favor dos empobrecidos.
Toda comunidade deve se sentir, novamente, convocada para descobrir as necessidades urgentes do povo, a organizar ações adequadas ou unir-se às que já se organizam.
A palavra de Deus, como fonte de inspiração dos cristãos, há de nos iluminar para entendermos que a ação política pode e deve ser expressão exímia da fraternidade evangélica.
O bem, quanto mais universal, mais divino.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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